Entre os provérbios chineses, um dos mais sábios diz que conhecer a nossa própria ignorância é a melhor parte do conhecimento. Para mim, o mais revelador afirma que os sábios vivem dos livros e os salsicheiros dos porcos. Elementar? Não necessariamente. Para o dramaturgo grego Ésquilo, considerado o pai da tragédia, a verdadeira sabedoria está em não parecermos sábios. É por isso que, embora busque sempre pela sabedoria dos mestres, fico com a máxima popular, segundo a qual para saber não basta ler, é preciso viver e ver. Por falar em Ésquilo, malandro é o esquilo que come noz.
Como sabedoria é senso comum e nada tem a ver com a esperteza de “falecido” Eduardo Cunha e dos deputados e senadores do PL, PP, PSD, do União Brasil e do Republicanos, prefiro a pureza e a simplicidade do povo, ambas consideradas o último degrau da sabedoria. Diferentemente da ciência, o conhecimento popular é intuitivo, espontâneo, com forte inclinação para erros, na medida em que não há estudos e análises capazes de comprová-lo. Como diria o Benedito, é o dito pelo dito e pronto antes do ponto.
Por exemplo, como negar que há solução para tudo, menos para a morte. E como não acreditar que chá de boldo cura problemas no fígado e ameixa e mamão ajudam a regular o intestino? Só tenho dúvida quando me oferecem garrafada de catuaba com gengibre, pé de galinha e bunda de formiga tanajura como santo remédio para brochura. De passagem por determinadas regiões do interior do país, percebi recentemente que o saber popular decorre da observação do mundo ao nosso redor. Ele é compartilhado por grupos de pessoas e transmitido de geração em geração.
Portanto, inquestionavelmente a sabedoria do povo é fantástica. Durante minhas caminhadas interioranas, aprendi com dona Maria do Sol Poente que o sujeito que mais bebe água no Brasil é o Otávio. Se alguém duvida é só passar um dia na rua em que mora a dita cuja. Invariavelmente, circulam por lá de dois a três caminhões pipa carregando água potável. Para dona Maria, é “ a água pro Otávio”. Em algumas localidades nem tão longínquas, a Nasa precisa chegar com a mesma urgência que deputados e senadores usam para derrubar os projetos apresentados pelo presidente da República em benefício da população.
Duvidei, mas descobri que, para alguns jovens e adolescentes do pré-ginasial, é aquele cantor romântico, e não o Saci Pererê, o personagem do folclore brasileiro conhecido por ter somente uma perna. Não achei graça alguma, mas pulei em um pé só ao ouvir que a maior ave do mundo é a Ave Maria e que o profissional que cuida dos pés é o pediatra. É a tal da sabedoria pai-d’égua, mas é a que o povão esquecido desse Brasilzão de meu Deus consegue alcançar.
Enquanto a Nasa não chega, a turma erra certa de que está acertando. Para alguns, o maior mamífero terrestre é a baleia. O que dizer se para outros o que está no meio do ovo é a gema, às vezes a clara, mas nunca o V. Pior é desdizer que o alimento químico mais abundante no mundo não é a maconha e que Iemanjá nunca foi a personagem principal do filme A Pequena Sereia. Optei pelo gritante silêncio ao ouvir que quem nasce em Tilambuco é tilambucano, em Pau Grande é bem dotado e em Toledo é toledando.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras
