Definido como força, domínio, posse e, ao mesmo tempo, autoridade, o poder nada mais é do que a capacidade de imposição ou de conquista, seja pela força bruta, seja pelo convencimento. Há pessoas que amam o poder. Por isso, buscam-no incessantemente e, quando o alcançam, mostram quem realmente são. Filosoficamente, o poder cega, mas quem o tem enxerga de longe o que lhe interessa. O tempo passou, mas, apenas como má lembrança, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tinha tanta força sobre o governo de Jair Bolsonaro quanto o crime organizado do Rio de Janeiro sobre o claudicante governador Cláudio Castro.
E qual a diferença entre Lira e a bandidagem. Do ponto de vista do lucro, nenhuma. O apetite político-econômico de um é absolutamente similar à voracidade pelo ganho fácil das milícias e do tráfico fluminense. O modus operandi também é idêntico. Um usava e os demais se utilizam das dificuldades para receber facilidades. Por meio do medo de não aprovar as propostas em benefício do país e de sentenciar à morte cidadãos indefesos, milicianos e traficantes armados e parlamentares com “bancadas” que chamam de suas ocupam espaços, vendem favores, espalham o terror e fincam o medo onde atuam. Eles só esquecem que o poder normalmente tem data de validade.
Infelizmente, pouca coisa mudou sob o comando de Lula da Silva. Enquanto os governantes enxugam gelo e engarrafam fumaça, a ordem da oposição é lucrar a qualquer preço. O povo e o contribuinte que se explodam. O verbo seria outro, mas o horário não me permite assentá-lo. No Rio de Janeiro, o custo de cada ônibus queimado varia de centenas de milhares a mais de um milhão de reais. No Congresso Nacional, particularmente na Câmara, cada voto dado em favor de um projeto de interesse nacional vale conforme o peso político e o estado do congressista. Os vinculados ao Centrão valem duas cabeças. Às vezes, três ou dez. A fartura das emendas parlamentares que o digam. Mas não são apenas elas.
Normalmente, o apetite por cargos é maior do que o alcance financeiro da proposição aprovada. Embora não tenha tantos tentáculos no governo como antes, o Centrão de Arthur Lira e de Ciro Nogueira (PP-PI) se filiou temporariamente a Luiz Inácio, ocupando boa parte da Caixa Econômica Federal. Tudo para agradar o aiatolá alagoano sem barba e sem burca. Voraz e insaciável como foi ao longo da gestão de Jair Messias, Lira não se contentou somente com a presidência da CEF. No melhor estilo dos fundamentalistas, que esperam ser os donos do mundo, ele chegou a comandar parte ou todas as 12 vice-presidências da estatal de fomento.
Essa troca de “negócios” é resquício do antigo e famigerado toma lá, dá cá. Em reação à recente derrota do IOF na Câmara, o Palácio do Planalto determinou a exoneração de nomes indicados por PP e PL para as vice-presidências da Caixa. Acostumadas a mamar sem sentir dor, as lideranças das duas legendas perderam porque traíram publicamente. Ganharam cargos, mas não retribuíram com votos. Para quem não se lembra, a primeira ação de um dos liderados de Arthurzão à frente da Caixa foi liberar negócios publicitários milionários para Arthur Lira Filho. Foi o tempo da Caixa Econômica na lixeira. É assim que agem os falsos aliados.
Eles nadam conforme a maré. Para as excelências do poder econômico, o mar tem de estar sempre para peixe graúdo. É assim que eles voltarão a agir tão logo tenham certeza de que o Lula 4 é um fato a ser consumado. Eleitor que não se apega, a maioria do brasileiro torce para que, em caso de vitória, Lula se desapegue da bandidagem de paletó e gravata e, a exemplo de Gonzaguinha, governe sem ter a vergonha de ser feliz. O presidente precisa saber que, de frente para a urna eletrônica, haverá milhões de eleitores dispostos a usar as trincheiras da alegria, de modo a garantir que o amor seja a única coisa capaz de explodir no dia da nova vitória.
