Eleitos para legislar em benefício do país e do seu povo, com a obrigação de combater a impunidade, a corrupção e a insegurança jurídica, nossos atuais legisladores lembram os poderosos chefões das máfias espalhadas pelo mundo. Com um pouquinho de exagero, eles parecem ter sido feitos para matar. Programados para esfolar a população brasileira, deputados e senadores desafiam os demais poderes, defendem golpistas, bandidos digitais e brigam até a morte pela absolvição irrestrita de fora da lei, principalmente se estes pertencerem à mesma corporação ou grupo.
O Brasil está ao Deus dará, mas suas excelências nadam de braçada em mares límpidos, sem ondas e forrados até a areia com dinheiro público. Como eles são fiscalizadores e raramente são fiscalizados por quem de direito (o Tribunal de Contas da União), abrem CPIs à rodo, desde que elas sejam contra o governo que abominam, e, sem qualquer preocupação com eventuais críticas, embutem os chamados jabutis em projetos de autorias diversas apenas para se beneficiarem ou beneficiar parceiros políticos ou financiadores de campanha.
Para quem não se lembra, os descontos indevidos nas aposentadorias do INSS foram autorizados pelo Congresso ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por pressão de integrantes do Centrão, base principal do então presidente, os congressistas impuseram numerosas alterações na Medida Provisória 871/2019, o que acabou produzindo uma mudança na norma previdenciária. O resultado foi o escancaramento da porteira para a tunga sem precedentes nos pobres velhinhos do INSS. A locupletação em favor de entidades fantasmas foi generalizada. E depois querem dizer que o ladrão é Luiz Inácio Lula da Silva. Só ele?
De maioria conservadora, o Senado aprovou na semana passada proposta proibindo a exigência da vacina contra a Covid nas escolas. Nada de extraordinário no retrocesso. Afinal, entre os defensores desse absurdo certamente estão alguns parlamentares que aprovaram as medidas bolsonaristas que geraram mais de 700 mil mortes durante a pandemia. Embora digam o contrário, as duas casas do Congresso não estão nem aí para o buraco negro do país. Para esses, é um absurdo a Polícia Federal ter investigado a fundo a trama golpista.
Segundo eles, pior ainda é o ministro Alexandre de Moraes ter condenado seus idealizadores, promotores e executores. Qualquer um tem o direito de discordar do perfil, da verborragia e das decisões de uma autoridade constituída. O que não pode é um cidadão, investido de um mandato parlamentar, defender pública e judicialmente os diplomados em golpes. Ainda mais estranho é o consentimento legislativo para que deputados e senadores xinguem de “bandido, comunista e comprado” um representante da Corte máxima de Justiça. Na verdade, não há permissão para nenhum brasileiro ameaçar ou atingir autoridades das quais discordam por alguma razão.
Curioso é que os agressores e os que escrevem defendendo as agressões são os mesmos que reagem ferozmente quando denominam o deus do caos de incompetente, grosseiro, mentiroso, negacionista e genocida. Com uma caneta ou um laptop à mão, a turma do contra já foi capaz de transformar a vítima, no caso o ministro Alexandre de Moraes, em culpado pela barbárie de 8 de janeiro de 2023. Sodomizada pelo rei da Biscoitolândia, a horda que diz torcer por um país justo e correto também lamenta o fim do vale tudo. No balaio de toda essa violenta e histérica bronca há uma única razão: a derrota para um adversário que julgavam morto. Morreu, mas passa bem e deverá partir em 2026 para sua quarta encarnação.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras
