Na noite em que as primeiras chamas lambem o céu, é Santo Antônio quem dá o sinal. É ele o porteiro das festas juninas, o cupido dos corações solitários, o santo das promessas sussurradas entre velas e bilhetes escondidos debaixo do travesseiro. Santo Antônio de Lisboa, ou de Pádua — tanto faz —, no Nordeste ele é de casa, íntimo das rezas e dos pedidos de quem anseia por casamento, fartura e proteção.
Nascido em Portugal no século XII, foi franciscano, pregador fervoroso, defensor dos pobres. Dizem que era tão sábio quanto doce. Por isso ganhou fama de milagreiro, e aqui no Brasil virou o santo casamenteiro. As moças fazem simpatias, colocam sua imagem de cabeça pra baixo, tiram os nomes de dentro do chapéu, e esperam, entre risos e esperanças, o milagre do amor.
A fogueira acesa na porta das casas na véspera do dia 13 de junho não é só tradição: é saudade acesa, é memória aquecida, é cultura viva. É promessa que arde e aquece, como o coração de quem espera — um amor, uma graça, uma resposta.
As ruas ganham cor, cheiro e som. Milhos estouram, bandeirinhas dançam com o vento e o xote ecoa no terreiro. No Nordeste, junho tem cheiro de pólvora e de pamonha, de suor e de forró. É o mês em que o sertanejo vira rei e a roça se veste de gala.
Santo Antônio chega primeiro, abrindo alas com sua fogueira. Os casais se enlaçam na dança como se tivessem nascido para aquele compasso. Crianças correm de um lado a outro, com os rostos pintados e os olhos brilhando como brasas. É o começo de tudo.
Porque no Nordeste, quando a fogueira de Santo Antônio se acende, não é só o fogo que arde — é o coração inteiro que começa a bater mais forte.
