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Frutas e sabores mostram a riqueza da doce gastronomia nordestina

No Nordeste, as estações do ano não ditam o que vai à mesa — é o sabor da terra que comanda o cardápio. E que terra! Vermelha, quente, generosa, feita de sol e suor. Por aqui, as frutas não têm hora certa para nascer, porque o tempo é só um detalhe para quem aprendeu a cultivar fartura em meio à seca.

Quem nunca se rendeu ao doce da manga rosa madura, que escorre pelos dedos e faz a gente voltar à infância? Ou ao cheiro do caju fresco, que invade as feiras livres, colorindo os olhos e o paladar com aquele azedinho característico, perfeito para virar suco, doce ou a famosa cachaça artesanal? O caju é quase um símbolo da criatividade nordestina — dá castanha, dá licor, dá história.

Tem ainda a seriguela, miúda e atrevida, que vem em pencas nos fins de tarde, disputada por mãos apressadas. E a graviola, com sua polpa branca e sabor suave, que vira sorvete, mousse ou remédio para alma. O umbu, obuzeiro do sertão, tem raiz profunda e resistência ancestral. Doce ou curtido no sal, é símbolo de um povo que sabe transformar o pouco em muito.

Na culinária nordestina, cada fruta vira prato, cada sabor vira afeto. O abacaxi ganha um toque de pimenta e vira acompanhamento. A banana-da-terra vai à frigideira e se transforma em manjar. A melancia, enorme e refrescante, é rainha das feiras, sempre ao lado da voz do feirante que sabe exatamente quando ela está no ponto.

E não importa se é verão ou inverno, chuva ou sol: a gastronomia nordestina é atemporal porque nasceu da sabedoria popular, de receitas passadas de geração em geração, com pitadas de improviso e muito amor. Cada fruta carrega uma memória, um jeito de fazer, uma avó que ensinou a receita no olho, sem pressa, enquanto contava causos do tempo do rádio de pilha.

Consumir os sabores da região em toda estação é mais do que uma escolha — é um jeito de viver o Nordeste com todos os sentidos. Porque, por aqui, o que se planta é mais do que alimento: é cultura, é identidade, é resistência.

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