“Segue em frente.”
Eles dizem como se andar fosse simples. Como se deixar para trás não doesse. Como se a alma tivesse pernas.
Mas eu segui.
Não porque fui forte. Não porque era hora.
Segui porque ficar doía mais.
Em A Náusea, Jean-Paul Sartre descreve o absurdo de existir, o vazio que nos envolve quando perdemos a razão de estar. E foi assim que me senti: nauseada da vida que desmoronou, dos planos que viraram escombros. O quarto parecia apertado, e o mundo, irrespirável. Mas havia algo… um sopro. Uma esperança embriagada de silêncio. E isso me empurrou.
A antropóloga Veena Das, ao estudar a dor social, diz que o sofrimento se inscreve no cotidiano nos pequenos gestos, nas repetições. E também é aí que começa a cura. Caminhar, lavar os pratos, escrever uma crônica.
É tudo ferida tentando se traduzir.
A vontade de desistir ainda me visita. Mas como escreveu Albert Camus: “No meio do inverno, descobri que havia em mim um verão invencível.” E esse verão não grita. Ele sussurra. Ele me diz que já passei por outras noites. E sobrevivi.
Seguir em frente, às vezes, é rastejar. É sair de casa com a alma sangrando. É rir e, logo depois, chorar no banheiro. Mas é também ver que há beleza nisso. A flor não nasceu da leveza: nasceu da terra escura, da lama, da resistência.
Como bell hooks ensinou: “o amor cura. E o amor começa dentro.”
Então eu fui.
Com medo. Com saudade. Com fé.
E sigo não por ter superado, mas por ter aceitado que viver é esse movimento incerto entre o que fomos e o que podemos ser.
