É revoltante a quantidade de vídeos nas redes sociais em que homens se colocam como juízes da moral feminina, apontando dedos e ditando regras de conduta, como se fossem exemplos de integridade. Julgam, atacam e generalizam. Mas a verdade é que muitos deles não têm sequer a mínima moral para julgar ninguém. Ignoram as próprias atitudes, reproduzem comportamentos abusivos e se recusam a assumir responsabilidades.
Ainda mais alarmante é quando esse tipo de discurso parte de outras mulheres, não para gerar reflexão ou sororidade, mas para defender cegamente os homens, como se fossem eternas vítimas inocentes, ao mesmo tempo em que culpam as mulheres por tudo. É o cúmulo do desserviço.
Esse tipo de conteúdo não apenas reforça estereótipos ultrapassados, como também alimenta uma narrativa perigosa. Ele absolve homens de traições, violência, abandono emocional e afetivo, e transfere às mulheres o peso de culpas que não deveriam carregar. É um discurso que escancara o machismo estrutural e o trata como se fosse normal.
Quando isso vem de outra mulher, o impacto é ainda mais doloroso. Porque sabemos que não é um caso isolado. É reflexo de uma sociedade que ensina mulheres a competirem entre si, a se anularem para agradar o marido, a confundirem submissão com virtude. Isso não é maturidade, nem amor próprio, muito menos empatia. É uma alienação travestida de vídeo motivacional.
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Rafaela Lopes, colaboradora do Café Literário, começa a escrever também textos de opinião para outras editorias de Notibras
