Faz dois anos e meio que mais da metade do Congresso Nacional, particularmente a Câmara dos Deputados, trabalha exclusivamente para blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro e para defender a súcia golpista de 8 de janeiro de 2023, a maioria já condenada pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, o governo federal é achincalhado e o povo brasileiro se vê obrigado, mesmo contra a vontade, a usar definitivamente o nariz de palhaço. Isso a Record, a Jovem Pan, o SBT e todos os sites aliados do ilícito compadrio não mostram. Empurram para debaixo do tapete ensebado do bolsonarismo.
Apesar de todas as evidências, de áudios comprometedores sobre áudios maliciosos, vergonhosos e criminosos, a turma que queria dizimar com a esquerda e matar quem tentasse impedir a trama golpista insiste em desfilar como santa. Só falta aos “patriotas” do Parlamento requerer ao Vaticano a canonização de Bolsonaro, a beatificação dos militares que aderiram ao fracassado golpe e a anistia ampla, geral e irrestrita da bandidagem que literalmente tocou fogo na Praça dos Três Poderes. O áudio é o batom na cueca. Todavia, isso não impede estudos da Câmara para reagir à coragem dos ministros do STF. É a desmoralização de uma casa que já foi séria.
Como revela o último áudio, gravado pelo policial federal Wladimir Matos Soares, a ordem era “tomar tudo”, “matar meio mundo” para manter Jair Bolsonaro no poder. O prêmio maior para o grupo de reacionários estupidamente antidemocratas era a cabeça do ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Para os santinhos do pau oco, o criminoso era justamente aquele que decidiu aplicar a lei contra os desordeiros e contra aqueles que resolveram usar as fardas, o eleitor manipulado e os Estados Unidos como valhacoutos.
Deram com os burros no lodo amarelado do Lago Paranoá. É bom que informem ao presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) que, ao contrário do que os bolsonaristas tentam mostrar, a frustrada tentativa de golpe não foi uma negociação súbita e inesperada, isto é, nunca se tratou de uma epifania, conforme a defesa dos que odeiam Luiz Inácio somente porque o povo o ama. Façam por onde. Simples assim. Voltem a se candidatar, apresentem propostas, mostrem ideias e, se tiverem coragem, façam o mea culpa de tudo o que não fizeram em quatro anos de governo.
Como nos dramalhões mexicanos, a política do ódio tem sempre os dois lados: normalmente os que tentam matar fisicamente o adversário acabam morrendo politicamente. O Brasil de Bolsonaro é a prova. Para alguns sonhadores e pregadores do conservadorismo servil, violento e catastrófico, destruíram a direita. Quem? Ela própria. A direita se acabou sozinha. As armas antidemocráticas utilizadas pelos “assassinos” dos radicais foram a sede de poder e os posicionamentos tirânicos contra o ordenamento jurídico legal. Portanto, o golpe contra a democracia acabou funcionando como um golpe na tirania.
Embora seja cristão, torço para que o monstro travestido de policial federal tenha o mesmo fim que desejou para Alexandre de Moraes. No mínimo, a prisão perpétua. Que ele, seu líder e os que novamente tentaram escurecer os céus do Brasil mofem na cadeia. Separados ou de conchinha, quem sabe os golpistas não tenham tempo para aprender que o que é do povo o bicho não come. Bem de todos, a democracia não pode e não deve ser moeda de troca.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
