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Instabilidade vai provocar parada na infraestrutura

Victor Aguiar, Luciana Collet e Lu Aiko Otta

A instabilidade política gerada pela delação premiada da JBS, com acusações envolvendo o presidente Michel Temer, fará com que os investimentos no setor de infraestrutura e os planos para concessões de ativos no âmbito do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) sejam paralisados, de acordo com a avaliação de especialistas no setor.

“Sem dúvida, o interesse do investidor estrangeiro estava 100% calcado no PPI, na estruturação dos leilões que estavam sendo feitos”, disse o sócio da área de infraestrutura do L.O. Baptista Advogados, Fernando Marcondes. “As coisas estavam caminhando muito bem, mas me parece que, agora, tudo vai ficar travado.”

Algum atraso é admitido também pelo Palácio do Planalto. Lá, a avaliação é que houve piora no ambiente econômico, o que pode afetar o programa. No entanto, a ordem é manter normalmente o funcionamento da parte técnica do programa. Pelo calendário, o próximo leilão é o da 14ª rodada de petróleo, prevista para setembro. Só então, dizem fontes, será possível dizer se houve de fato algum prejuízo.

Entre os técnicos, a avaliação é de que o programa sobreviverá aos solavancos. “Independente do que vier a acontecer no campo político, não tem dúvida que a recuperação do investimento é pela via das concessões, já que não há recursos orçamentários”, disse uma fonte.

Diversas fontes consultadas pelo Estadão/Broadcast lembraram que o leilão dos aeroportos de Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre, realizado em março, foi bem sucedido e atraiu diversos players internacionais. No entanto, com as delações da JBS, a percepção de risco em relação ao Brasil vai disparar e, com isso, a capacidade do País para atrair capital privado e internacional será impactada no curto prazo.

Oposto – “Instabilidade é o oposto do que queremos para a infraestrutura”, diz o sócio-presidente da BF Capital, Renato Sucupira. “A situação, agora, é de incerteza muito grande, não há como fazer uma avaliação de risco, como precificar.”

Mesmo no setor elétrico, em que o histórico recente apontou forte atração de investidores, com a realização de dois leilões de projetos de transmissão que destravaram juntos cerca de R$ 24 bilhões em investimentos, a perspectiva de atração de capital para um próximo certame ou para outros ativos de geração, transmissão e distribuição de energia que são negociados no mercado secundário se tornou incerta e o otimismo recente deu lugar à apreensão.

“As reuniões sobre novos investimentos estão desde a noite de ontem (anteontem) em compasso de espera. As decisões de curto prazo precisam esperar que o cenário clareie, porque no momento há uma incógnita”, afirmou o presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, também presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape)

Ele contou que na noite de anteontem esteve em um encontro com investidores internacionais que foi interrompido pela notícia sobre a delação premiada da JBS.

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