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Irlanda vai às urnas decidir sobre liberação do aborto

Cartazes a favor do 'sim' e do 'não' para o referendo irlandês sobre o aborto, em 12 de maio de 2018, em Dublin. Foto: Artur Widak/AFP

Após aprovar o casamento homossexual há três anos, os irlandeses votam nesta sexta-feira (25) no referendo sobre a liberalização do aborto, uma votação que medirá a ascendência da Igreja católica sobre o país.

Os eleitores vão decidir se revogam a oitava emenda constitucional, que proíbe a prática do aborto em todos os casos, salvo quando houver perigo para a vida da mãe. Os colégios eleitorais abriram às 7h locais (3h em Brasília) e fecharão às 22h (18h em Brasília). A contagem dos votos será no sábado, e os resultados devem ser conhecidos à noite.

As últimas pesquisas davam uma leve vantagem para os partidários do “sim”, mas essa margem aparece menor em algumas pesquisas. Além disso, um em cada seis pessoas permanece indecisa.

Sinal de interesse, este ano, mais de 118.000 cidadãos solicitaram inscrição para votar.

Até pouco tempo, a Irlanda era um feudo da Igreja católica, por razões históricas e também políticas, relacionadas com seu secular enfrentamento com a anglicana Inglaterra. O país teve sua independência do Reino Unido no início do século XX.

O escândalo dos abusos sexuais de crianças por parte do clero, entre outros, enfraqueceu sua posição. O aborto pode ser punido com até 14 anos de prisão, mesmo que a gravidez seja resultado de estupro, ou incesto, sendo permitida apenas se a vida da mãe estiver em risco.

Aborto livre? – Caso o “sim” vença, o governo de Leo Varadkar já tem uma lista de mudança nas leis, que permitiria abortar livremente durante as 12 primeiras semanas de gravidez e, em algumas circunstâncias, nos primeiros seis meses.

Ontem, o primeiro-ministro Varadkar, que defende a liberalização, convocou a população a votar, classificando o referendo de “oportunidade única em uma geração” e avisando que não haverá outro referendo qualquer que seja o resultado, em uma entrevista à rádio Newstalk.

Varadkar lembrou que, desde que se introduziu a emenda constitucional proibindo o aborto, decidida em referendo em 1983, “170.000 mulheres foram para o exterior abortar”.

Em 2013, decidiu-se que as mulheres, cuja vida corria risco com a gravidez, poderiam interrompê-la, após o escândalo causado pela morte de Savita Halappanavar, que morreu por não ter podido fazer um aborto.

A ideia do novo referendo ganhou impulso com o caso de Amanda Mellet, que teve de viajar para o Reino Unido para abortar, depois de detectar que o feto sofria uma anomalia mortal e de levar seu caso à ONU.

Gavin Boyne, um estudante de Filosofia de 20 anos, explica que deve sua vida à proibição do aborto e que vai votar a favor de manter a oitava emenda. Sua mãe engravidou por acidente, e seus pais decidiram enviá-la para a Inglaterra para abortar. Finalmente, voltaram atrás.

“Meus avós reconheceram que era um ser humano único, com um valor. Por isso, não podiam me matar. Se a oitava emenda não tivesse existido em 1998, hoje eu não estaria aqui”, afirma.

Já para a dublinense Ciara Grealy, de 21, não tem sentido “exportar mulheres para outros países para fazer algo que deveriam poder fazer aqui de maneira segura e legal”.

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