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Itamaraty, com ciúmes, decreta caça às bruxas

Foto/Arquivo Notibras

O embaixador Paulo Roberto de Almeida, exonerado do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), nesta segunda-feira, 4, afirmou que sua saída aconteceu devido ao seu “espírito libertário”, expresso principalmente em suas redes sociais. Almeida disse que já estava esperando a atitude do Itamaraty e critica a atuação do novo governo frente à Casa.

“Os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos dos que estavam antes”, afirmou Almeida, que é diplomata de carreira desde 1977 e já serviu em diversos postos no exterior, inclusive na Bélgica.

Em relação ao chanceler Ernesto Araújo, diz que os próprios militares que integram o governo já demonstraram incômodo com algumas de suas posturas. “Os militares parecem também terem visto isso e adotaram uma espécie de ‘cordão sanitário’ ao redor do chanceler”, afirmou.

Veja trechos da entrevista a seguir:

Como foi que o senhor ficou sabendo da sua exoneração?

Recebi um telefonema do Chefe de Gabinete do Ministro de Estado (Pedro Gustavo Ventura Wollny) reclamando das minhas postagens no meu blog pessoal. Realmente, coloquei aquela palestra do (Rubens) Ricupero na segunda-feira passada, coloquei o artigo do Fernando Henrique Cardoso, no domingo, e o próprio artigo do chanceler (Ernesto Araújo) à noite. E claro, teci comentários.

Há também outras postagens, anteriores a estas, que são críticas…

Sim, eu sou um espírito libertário, enfim, acredito que posso debater tudo. Enfim, eles ficaram irritados e ele (Wollny) me telefonou para dizer que não era saudável.

O chefe de gabinete então deixou claro que a exoneração tinha relação com as postagens?

Sim, claro. Com meu blog, sem dúvida nenhuma. Mas isso já era previsível. Eu já estava preparado. Porque o ministro de Estado demitiu todos os chefes da Casa. Desde antes de tomar posse, em dezembro, eles estavam anunciando que todos os subsecretários, os embaixadores, estavam dispensados. E no lugar, hoje, os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos dos que estavam antes. Há muito embaixador sem função, o que vai ser meu caso agora também.

Por que o senhor acredita que isso ocorreu?

Isso ocorreu porque o chanceler Ernesto Araújo também é um embaixador júnior. E ele está usando um critério geracional, digamos assim, para renovar a chefia. O que pode ocorrer em determinadas circunstâncias, mas o fato é que houve uma quebra de hierarquia muito clara no Itamaraty desde janeiro. Houve também uma ruptura dos procedimentos quanto à reforma na Casa, totalmente sem consulta, sem nenhuma preparação.

Como o senhor vê o desempenho do chanceler até este momento?

Não sou eu que estou vendo. Os jornalistas todos têm feito comentários sobre as posturas anti-globalista, anti-climatista, essas questões envolvendo a Venezuela. Os militares parecem também terem visto isso e adotaram uma espécie de “cordão sanitário” ao redor do chanceler. Isso porque foram várias coisas anunciadas que eles tiveram de dizer não, como a base militar nos Estados Unidos, a postura anti-China, a mudança da nossa embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Teve também uma primeira reunião do Grupo de Lima em que ele aceitou a cessação de qualquer relação militar com o governo de Nicolás Maduro. Há muitos elementos aí que criam um certo desconforto tanto na Casa quanto fora dela. Acredito que o fato de eu repercutir um pouco esse debate público incomodou um pouco.

O senhor acredita que ainda podem haver novas exonerações no Itamaraty?

Vários embaixadores já foram exonerados de seus cargos que estão sem função. Então, acho que há essa perspectiva geracional. Não conheço nenhum diplomata petista. Talvez tenha dois ou três, mas devem estar quietos. Essa coisa de limpar o petismo do Itamaraty, o marxismo cultural, isso é uma grande bobagem. Porque o Itamaraty é feito por profissionais, que, claro, atendem ao presidente, seguem a política externa do Palácio. Algumas medidas tomadas recentemente são pouco compatíveis com as chamadas tradições do Itamaraty.

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