Apostar em A ou B nas próximas eleições presidenciais é o mesmo que contar com o ovo dentro da da galinha, ou seja, dar como certo algo que ainda não aconteceu. Engana-se quem acha que a direita é fava contada em 2026. De modo inverso, não se deve imaginar Luiz Inácio fora da disputa. Diz o ditado que de onde ninguém espera coisa alguma é que vem as maiores surpresas. O lado que acha que já ganhou a eleição pode tirar o cavalinho da chuva. Já vi time tomando de quatro e virar para cinco. Também vi político importante supostamente vitorioso sendo obrigado a tirar as nádegas indevidas da cadeira que ele imaginava ser sua.
O fato é que, não importa a Bíblia em que reze, ninguém deve cantar vitória antes do tempo. O jogo político só acaba quando a apuração é encerrada. Por isso, é fundamental que direita, esquerda, centro e adjacências estejam com as antenas ligadas em 2025. As grandes mudanças mundiais são cíclicas. Quem sabe elas não estejam bem mais próximas do que alcança nossa vã imaginação. Talvez tenhamos um ano nunca visto na história deste país. Contra ou a favor dele mesmo, Donald Trump será um divisor de águas para o mundo globalizado e para o Brasil polarizado. Com sua caneta do tipo pincel atômico e a loucura estampada bem abaixo do topete oxigenado, o cidadão tem poderes para mudar o rumo do planeta.
Dia desses, após ler uma análise sobre 2025 tutelado por Trump, me dei conta de que realmente estamos diante de uma quadra em que tudo pode mudar e nada ser como antes. Assinada por John Simpson, editor de Assuntos Internacionais da BBC News, a análise traça um paralelo entre o ano vigente com 1968 e 1989. Os mais velhos têm gravado na memória que nesses dois períodos o planeta passou por alguma mudança imperiosa, agitada e tensionada. Bem lembrado por Simpson, 1968 ficou marcado pela invasão da União Soviética à antiga Tchecoslováquia, pela revolta estudantil em Paris e pelos protestos contra a Guerra do Vietnã nos Estados Unidos.
Ano do massacre da Praça da Paz Celestial, na China, 1989 também será sempre lembrado pela queda do Muro de Berlim e da implosão do império soviético. Sem exageros, o personalismo, a vaidade e o expansionismo exacerbado do presidente republicano devem ser seus principais algozes. Todavia, até que eles deem o ar da graça, o que será do mundo sob os cruéis olhares de Trump? E do Brasil de Luiz Inácio com Jair Messias e sua trupe na espreita? Para sorte de nosotros e de todos os outros, o poder de Trump não é absoluto, único e indeterminado.
Como há outros mandatários tão ou mais poderosos do que ele, muita coisa pode acontecer, inclusive nada. No caso do Brasil, estamos vivendo a fase do bicho que come se ficarmos e do bicho que pega se corrermos. A principal razão, é claro, é Jair Bolsonaro e sua sede de poder. Não fosse o desejo insano de ocupar um espaço que não é mais seu, Lula esgotaria (ou não) seu estoque de argumentos contraditórios e o caminho estaria (ou não) aberto para 2026. Obviamente que, mantendo o esgotamento do petismo, haveria necessidade de um prévio acerto com os russos, também conhecidos por eleitores fiéis a Luiz Inácio.
Estivesse Bolsonaro disposto a aceitar a derrota, a essa altura a direita estaria publicamente em busca de alguém que não veja a maioria do povo tão servil, subserviente, interesseira e passivamente idiota como a minoria. As próximas semanas e meses dirão quem está com a razão. Damas e cavalheiros, preparem a pipoca, a champanhe ou lenços porque o jiripoca vai piar. Vamos aguardar. Estou em paz. Sou de esquerda quando meus dois neurônios decidem não aceitar a divisão social proposta pela direita. Entretanto, marcho com a direita quando a esquerda resolve escantear aqueles que têm perfil ideológico distinto, mas aceita os dos outros, desde que lhe consiga votos.
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*Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais
