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Julgamento antológico indica que futuro chegou

Lamentando o prematuro passamento do escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo, que morreu semana passada aos 93 anos, faço minha uma de suas mais belas frases. O futuro era muito melhor antigamente. E realmente era, mesmo nos tempos da ditadura. Deixou de ser porque se tornou mais previsível do que o presente e, às vezes, mais tenebroso do que o passado. Considerando que, naquele tempo, a vida era um ciclo a ser vivido sob o modo conta gotas, hoje ou vivemos intensamente ou corremos o risco de atropelamentos.

Metáforas à parte, o risco é sermos atropelados pelo coco, pelo relógio de pulso, pelo WhatsApp, Facebook, Instagram, pelo bolsonarismo e até pelos silenciosos automóveis elétricos. Para quem não viveu o antigo futuro, informo que, em um passado nem tão distante, eu já fui um pão, boa pinta, bidu, joia, bicho-grilo, grilado, barra limpa, supimpa, batuta, chuchu beleza, um estouro e até da hora. Nunca fui cafona e jamais marquei touca. Comigo não havia o tal papo furado. Pelo contrário. O futuro era somente o futuro que não havia chegado.

Sempre estava na boca de espera e pronto para botar pra quebrar ou estourar a boca do balão. Serelepe e bem transado, não tinha carango e nem tutu. Entretanto, sobrava borogodó. Hoje, apesar de reconhecidamente patriota e temente a Deus acima de tudo, me acham comunista apenas porque não concordo com o obsoletismo tirânico de um tal mito. O que fazer? Nada, além de continuar vivendo e lembrando como era bom o futuro de antigamente.

Na boca da patota, meu borogodó parecia do tipo lírico, quase um barítono no caminho do soprano. Custava a sair, mas, quando saía, era massa. Podes crer que não era fichinha, sacou? Pra frente desde a mais tenra idade, vivia na pindaíba, mas, como pé de valsa e vestido na beca emprestada, virava bacana, um estouro, a ponto de deixar borocoxôs e bolados os caretas, os quadrados e os chatos de galocha do pedaço.

Chocante, mas sem bode, zueira, fuzarca, treta ou perrengue, lacrava ainda que o termo não tivesse sido inventado pela turma do underground. O vocábulo gorar também estava longe do vernáculo da turma do balacobaco. Era puro papo furado, espalhado por lelês da cuca. São os mesmos que, lustrando a cara de madeira vencida, permanecem vinculados ao que há de pior na política brasileira. Antipatriotas ao extremo, a maioria luta para absolver os golpistas que só queriam nos tutelar.

Admitindo a hipótese de que o novo bordão da TV Globo está correto, me parece que realmente o futuro do futuro já começou. Ele estreou nessa terça-feira (02), no palco engalanado do Supremo Tribunal Federal. Otimista até na hora da morte, o povo da maldade esperava um julgamento mitológico. Se deram mal, porque, depois do relatório de Alexandre de Moraes e da peça acusatória do procurador Paulo Gonet, podemos dizer que o julgamento é antológico. Comecei e concluo parafraseando o pensamento de Veríssimo. Depois da sentença, não sei para onde caminharão os bolsonaristas. Mas, quando souber, vou para o outro lado.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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