Hipoteticamente, técnicos de futebol, narradores, comentaristas e repórteres esportivos não têm preferência por um clube. Na realidade, é claro que todos torcem por esse ou aquele time. Na cobertura ou narrativas políticas não é diferente. Pelo menos não era. Nos bons tempos, a ideologia, embora pulverizada, se limitava à simpatia partidária ou pessoal. Durante as campanhas eleitorais, como não havia mitos, tampouco idolatria ou fanatismo tacanho, naturalmente o jornalismo específico se dividia igualitariamente entre todos os candidatos.
É claro que aqueles com discursos e propostas de governo palatáveis mereciam espaço diferenciado, exatamente como fazia e faz a Justiça Eleitoral na distribuição do tempo destinado a cada um no horário eleitoral gratuito. Hoje, com a invenção da chatice chamada polarização, os jornais, revistas, televisões, rádios e sites estão tão divididos como o povo que teima em se prender ao que não existe. Sem abrir mão de minha isenção, mantenho o posicionamento de sempre.
No entanto, não posso ser hipócrita a ponto de sair por aí dizendo que não tenho lado. Considerando minha consciência patriótica, doutrinariamente permaneço distante de tudo que está posto. Portanto, continuo sem um lado para chamar de meu. Todavia, defini minha caminhada ao me certificar o lado pelo qual jamais torceria. Não sei se fui claro, mas não tenho vocação para gado, tampouco para ouvinte de asneiras cada vez mais absurdas.
No Brasil de hoje, definir o lado político não é tarefa das mais complicadas, considerando que os caminhos estão estabelecidos faz pelo menos sete anos. Não há alternativas diferentes do progresso e do retrocesso. Como brasileiro varonil, minha opção obviamente que é por um futuro de paz, de amor, de tranquilidade e, se possível, de prosperidade econômica e social. Esse é um dos motivos que me levaram a concordar com algumas teses do ex-líder francês Charles de Gaulle, entre elas a de que a política é um assunto sério demais para ser deixado nas mãos de políticos que não entendem de política.
Por exemplo, depois do fracasso da aventura bolsonarista, como admitir como presidente da Câmara dos Deputados um cidadão criado com avó e mantido com leite de bode, pão de mandioca importada da Sibéria e manteiga de bezerro castrado? Com todo respeito à pessoa, mas o deputado Hugo Motta (PB), terceiro na linha de sucessão presidencial, precisa aprender com os santinhos sem auréola Arthur Lira (AL) e Eduardo Cunha (RJ) como gemer sem sentir dor. Aparaibando o vernáculo, ele precisa comer muito angu com jabá para se achar no direito de pleitear a cadeira mais próxima da janelinha.
Deixando de lado o blá blá blá e voltando ao lado que escolhi para me escorar em 2026, o que posso antecipar é que, entre o diabo e o capetão, fico com o cão. Pelo menos esse rosna, mostra os dentes, abana o rabo para os que lhe oferecem apoio, mas nunca pensou como Hitler, Netanyahu, Trump ou Mussolini. Como não quero saber se o diabo nasceu foi em Garanhuns ou em São Paulo e como ainda não morri, opto por seguir em paz e com muito amor atrás do trio elétrico. Para mim, quatro anos de desmandos e de desmanches foram suficientes para que decidisse pelo lado que certamente jamais pensará diferente daqueles que, como eu, avaliam a democracia como o maior patrimônio da nação brasileira.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
