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Lágrimas de crocodilo de Bolsonaro são como flagra de batom na cueca por mulher

Paquidérmico e intolerante, mas inoperante, improdutivo e inútil do ponto de vista do progresso político e econômico do país, o governo de Jair Bolsonaro poderia ser definido por metáforas. Levaria muito tempo. Como o tempo é ouro e sabidamente o ex-presidente não é um poço de sabedoria, fico no registro de que a notícia que está por chegar lá das bandas do Supremo Tribunal Federal será um balde de água fria no cidadão que se apresentou como o anjo número 1, mas acabou com a batata assando e sem entender que a vida é um palco, o tempo é um rio e nem todas as noites lembram uma cortina de veludo.

Está bem próximo de ruir o coração de pedra do docinho de coco que sonhava em abraçar o mundo com as mãos. E não adianta mais dar murros em ponta de faca. Sem encher linguiça e com o coração de gelo, o lobo que quase foi preso virou um leão e vem mostrando ao Brasil e ao mundo que nem sempre a vida é um conto de fadas, muito menos mamão com açúcar como imaginou Bolsonaro ao ser eleito presidente de uma república de 213 milhões de habitantes. Nas nuvens e parecendo na crista da onda, o chamado mito perdeu e, mesmo dentro de um castelo de areia, se achou mais importante do que o rei. Aí começou seu calvário.

Com a mesma naturalidade que comandou as reuniões contra a vacina da Covid ou a favor do desmatamento da Floresta Amazônica, Jair Bolsonaro reuniu seus principais colaboradores e decidiu dar um golpe para impedir a posse de Luiz Inácio, presidente eleito democraticamente. Tudo registrado pelo araponga mais conceituado de seu staff. A tranquilidade e a certeza da impunidade foram as novidades da proposta golpista abortada antes mesmo que chegasse como ordem nos acampamentos bolsonaristas espalhados pelos quatro cantos do país.

Apesar da aparência de modernidade para os mais novos, o golpismo tramado pela seita bolsonarista não tem originalidade alguma. Desde a independência, em 1822, já foram nove levantes, entre eles dois envolvendo Getúlio Vargas (Estado Novo e a deposição). O último, que durou 25 anos, ficou conhecido com a Revolução Militar de 31 de março de 1964, cujo desfecho foi a derrubada do governo de João Goulart. Portanto, até então tudo como dantes no quartel de Abrantes, expressão portuguesa que significa que nada mudou ou que tudo continua igual na cabeça dos que não admitem a derrota como algo comum à vida.

Em qualquer lugar do mundo, um golpe de Estado pode ser conceituado quando há subversão da ordem institucional. Achar que o 8 de janeiro de 2023 foi uma brincadeira de cabra cega entre generais, coronéis e serviçais do bolsonarismo de shopping center é acreditar na necessidade de se criar outro mundo para que este fique bom. Para os que estiveram – e estão – à margem da conspiração, é a prova incontestável de que, quanto menos os homens pensam, mais eles falam o que não devem falar. Acostumados com o poder absoluto, os defensores do golpe articulado por Jair Bolsonaro morrerão achando que mais importante do que as leis e as normas são os costumes.

Por isso, a inspiração antidemocrática para impedir a posse de um presidente eleito pelo voto secreto e soberano da maioria do eleitorado, particularmente o nordestino. Do retumbante fracasso sobraram duas certezas. A primeira é que o golpe palaciano só foi contido graças ao desejo incontrolável da maioria dos brasileiros pela democracia plena. A segunda é a prova de como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem. Não conhecíamos. Voltando às metáforas, errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice. Diante das provas incontestáveis a respeito do golpe, algo como batom na cueca, resta lembrar aos aliados do ex-presidente que suas lágrimas de crocodilo não convencem mais ninguém. Para concluir, saibam que Alexandre de Moraes e os demais ministros da Primeira Turma do STF têm estoques de lencinhos descartáveis.

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