No jargão popular, a expressão Pé de pato, mangalô, três vezes é sinônimo de Sai, urucubaca. Usada pelo povão brasileiro como um esconjuro ou afastador de má sorte, similar a “tá amarrado” ou “bate na madeira três vezes”, a locução muitas vezes também serve como antídoto para situações de superstição e contra energias negativas. Imagino que tenham sido essas as palavras mágicas que o caboclo Metineles sem Vaselina ensinou para que o presidente Luiz Inácio repetisse até que desse um nó nas tripas dos almofadinhas metidos a deputados, senadores e pastores aliados do Jairnossauro Messias.
Aparentemente, tudo indica que deu certo. Não sei até quando, mas, mesmo magoadas e nauseabundas, as destemidas, endinheiradas e enroladoras excelências terão de, temporariamente, engolir o sapo barbudo. Tomara que seja demoradamente, pois, cá do meu catre, prefiro mil vezes quem fala verdades ou meias verdades com duros palavrões, do que os hipócritas que falam bonito, manso e dão tapinhas nas costas, seguidas de punhaladas. Tantas vezes tentaram matá-lo. Em nenhuma delas ele morreu. Pelo contrário, ressuscitou em três oportunidades e, dando graças à desgraça inventada pelos “patriotas”, segue cantando rumo à quarta encarnação.
Se não vier, coitado do eleitor, cuja sina futura será chorar rios de lágrimas com o calvário já anunciado pelas lombrigas sugadoras do bolsonarismo. Por enquanto, como todo menino que sofre bullying, o “ladrão” de todos os bolsonaristas voltou a gritar para o mundo inteiro ouvir: Marraio, feridô, sou rei! Está claro que Lula não pensa em transformar possibilidades em probabilidades, pois ele sabe que o povaréu de lá, do chamado cercadinho do Congresso, quer dominá-lo e deixá-lo a pão e água, de modo a impedi-lo de se reeleger. Como último jogador a jogar, o presidente tem feito o trem bem-feito. Sem cair na esparrela da generalização, da polarização e da radicalização, o líder petista age como mineiro.
Depois da silenciosa história da Taxação BBB e dos vídeos mostrando ricos isentos de tributos em iates e pobres afundando em impostos, o bicho pegou para a patriotada e para o Congresso do Centrão e da extrema-direita. O trabalhador não aguenta mais ser explorado. Acusando o golpe nas partes baixas, os aliados de Jairnossauro chamam de boçais, burocratas e bajuladores os que apoiam a campanha do PT para taxar os super-ricos. Como defendem desmedidamente as barbáries de Bolsonaro, eles seriam o que? Melhor deixar para lá. São moucos tentando defender um imbrochável que “trapiciou” o país e hoje sofre com a “apenescite” aguda. Guardadas minhas posições partidárias e escamoteando todas as ideologias que me imputam, não é demais lembrar que, em todo tipo de jogo coletivo, o primeiro milho é dos pintos.
Mais uma vez teremos de aguardar para saber se a vitória é temporária ou definitiva. O tempo dirá, mas com a cara de besta que Deus lhe deu, Luiz Inácio novamente meteu a chibata nos traquinas apelidados de parlamentares. Espertos como lagartixas na parede, os deputados aprovaram e os senadores referendaram o aumento no quantitativo de deputados. Na calada da tarde do fim de semana, Lula parece ter decidido que não sancionará a proposta, deixando o desgaste para seus autores ou seu autor, o engomadinho deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Mexeram com quem estava quieto. A briga é boa. O enfrentamento é melhor ainda. Uma pena que nessa guerra entre o mar e o rochedo só quem se lasca são os lambaris, ou seja, nós.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
