Felipe Meirelles
“Tudo ruiu. Foi como se assistíssemos ao estupro da democracia de mãos atadas.”
Foi assim, num misto de desilusão e polêmica, que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva definiu o sentimento que invadiu o PT e seus aliados no dia em que foi proclamado, pelo Senado, o afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Lula escolheu a imprensa estrangeira para conceder sua primeira entrevista, desde o dia em que esteve em Brasília e acompanhou a saída de Dilma do Planalto. Foi na noite desta quinta-feira, 19, em São Paulo.
Lula foi direto e resumiu seu sentimento em poucas palavras: “Aquele foi o dia da indignação, de frustração e de derrota”, afirmou.
– Parecia que eu estava vendo tudo ruir, tudo parecia desmoronar, sentenciou.
O ex-presidente admitiu que não queria estar em Brasília naquele dia. “Eu não queria estar naquele ato, eu não queria estar naquela foto, porque penso que foi uma sangria, e foi quase que um estupro feito na democracia brasileira que permitiu que Dilma deixasse a Presidência antes de terminar o seu mandato”, enfatizou.
– Foi um dia muito triste para mim porque não era apenas a presidente que estava deixando o cargo de forma abrupta; era um projeto, um projeto de sonho, um projeto de inclusão social, um projeto que mostrou ao mundo que fica muito fácil governar um país e resolver os problemas do povo pobre quando você inclui os pobres no orçamento do país, quando você deixa de tratá-los apenas como uma estatística ou problema social, acrescentou.
Porém, para Lula, o futuro aguarda muitas surpresas. Ele fez questão de acompanhar Dilma naquele momento por “solidariedade” e “para mostrar aos adversários que tem muita coisa para acontecer nesse país, tem muita luta e ainda falta muita conquista para o povo brasileiro”.