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Lula precisa dar as costas a Donald Trump e olhar mais o Sul Global

Acompanho, distante dos burburinhos de Brasília e mais ainda dos de Washington, a escalada tarifária promovida por Donald Trump contra o Brasil, num cenário tensionado por fatores políticos envolvendo Lula, o STF e a direita brasileira. A gente observa o país num tabuleiro geopolítico de alta volatilidade. E para travar um bom combate, o Brasil deve agir com pragmatismo, inteligência estratégica e articulação internacional multilateral. Se aceitar o confronto ideológico provocado pelo galego ressabiado, nosso nordestino que foi de metalúrgico a presidente pode sofrer revezes desnecessários.

Longe de tudo isso, e após longas horas de sono sob o som das ondas do Atlântico Sul quebrando contra a praia, avalio algumas das principais frentes de ação que o Brasil deveria adotar. Vamos a elas:

1. Despolitizar a resposta: foco econômico, não ideológico. É que, suponho, Lula 3 não pode cair na armadilha de transformar a disputa em guerra verbal. A resposta deve ser técnica e comercial, reforçando que o Brasil respeita regras da OMC e busca relações equilibradas com todos os parceiros, inclusive os EUA.

2. Buscar apoio internacional, costurando alianças na OMC e no G20. O Palácio do Planalto pode orientar a equipe do governo para acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e coalizões como BRICS, CELAC e G20. A partir daí, será possível construir um consenso internacional contra medidas protecionistas unilaterais. O que Lula precisa mostrar é que o país está sendo alvo de retaliação política disfarçada de tarifa comercial, o que fere acordos multilaterais.

3. Unir setores produtivos e reforçar discurso de soberania é mais um passo a ser dado pelo governo brasileiro. Lula precisar urgentemente montar um bloco técnico-político com o agronegócio, indústria e comércio exterior para mostrar a Trump que os ataques de Washington prejudicam milhões de trabalhadores norte-americanos e brasileiros; e, que o Brasil é um fornecedor confiável e estratégico para o mundo.

4. Outro ponto que deve ser levado em consideração é a blindagem institucional e diplomática. Para isso, é fundamental que o Itamaraty assuma o protagonismo, blindando a diplomacia de eventuais declarações incendiárias do Executivo ou do Judiciário. Isso será possível reforçando o diálogo com parlamentares e governadores norte-americanos, sobretudo os ligados ao agro e ao comércio. Paralelamente, devem ser utilizados canais bilaterais formais para demonstrar que o STF e o Executivo não interferem nas exportações, desarmando, assim, a retórica trumpista.

O Brasil pode — com cuidado — ampliar exportações para a China, a Rússia, a União Europeia e países árabes, sem abandonar os EUA, mas mostrando que tem alternativas comerciais relevantes, o que ajuda a reduzir a dependência e pressiona Washington a negociar.

Como o Brasil não deve entrar no jogo de provocações, a melhor estratégia é responder com diplomacia firme, articulação internacional e foco no interesse nacional, sem alimentar a guerra proposta por Trump que tem como troféu a volta e Jair Bolsonaro ao Planalto. Se Lula agir assim, isola Donald Trump politicamente a nível internacional e o desarma em sua tentativa de usar o Brasil como “bode expiatório eleitoral”.

Quanto aos trapalhões Jair Aragão, Flávio Santana, Eduardo Mussum e Renan Zacarias, com esses não devemos nos preocupar. O eleitor saberá dar a resposta nas urnas. Mesmo porque, o brasileiro, sempre de bom humor, detesta uma piada sem graça, de roteiro sujo, contrário aos interesses do Brasil e, principalmente, premeditado, como quem planeja mais um golpe contra nosso bem maior – a democracia.

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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras

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