O presidente Lula (PT) sancionou nesta quarta-feira, 26, em Brasília, a lei que isenta do Imposto de Renda os brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês — um alívio bilionário para os contribuintes e um trunfo político que o governo tenta capitalizar. A nova regra, que também reduz alíquotas para rendas de até R$ 7.350, passa a valer em 1º de janeiro.
O texto, vale lembrar, passou com folga nas duas Casas: votação simbólica no Senado e, na Câmara, um placar soviético de 493 a 0. Mas, se a lei avançou sem resistência, o clima político fez o oposto.
Em meio ao rescaldo da guerra fria (cada vez menos fria) entre o Palácio do Planalto e o Congresso, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), simplesmente ignoraram a cerimônia. Não houve rompante, nem comunicado diplomático — apenas o silêncio calculado de quem quer deixar o Planalto falando sozinho.
Motta alegou uma “agenda interna”, aquela expressão coringa que costuma aparecer quando a vontade é zero. Ainda assim, correu para as redes para celebrar o projeto — que, oportunamente, teve Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor e aliado, como relator.
“Hoje a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil se torna lei. Uma vitória histórica para milhões de brasileiros”, escreveu o deputado, fazendo questão de posar como sócio majoritário da conquista.
Já Alcolumbre nem tentou encenar cordialidade. Optou pela ausência pura e simples, um gesto que, no xadrez brasiliense, fala mais que qualquer nota oficial.
No papel, a nova lei promete beneficiar cerca de 16 milhões de brasileiros. No tabuleiro político, porém, revela mais um capítulo da disputa por protagonismo — e da crescente dificuldade do governo em converter vitórias econômicas em alianças duradouras no Congresso.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
