Apesar do natural otimismo de Luiz Inácio, o Lula 4 já esteve mais perto do Lula 3. A distância é menor do que imaginam os detratores e nada tem a ver com o tempo, mas com a dificuldade de o presidente se acertar com seus colaboradores mais próximos, principalmente com os da área econômica. Além de voltar a dar o ar da graça pelos rincões do país e de mostrar ao eleitorado que ainda tem lenha para queimar, Lula precisa dizer ao povo que grande parte das mazelas do governo não é só dele, mas da ala majoritariamente à direita, cuja sede pelo poder é proporcional à vontade de desestabilizá-lo.
Para reduzir a “lonjura”, Lula tem a seu favor a luta interna dos conservadores pela indicação de um candidato capaz de, em 2026, brigar pela cadeira presidencial. Único dos atuais governadores de direita com alguma chance de disputar a sucessão de Lula, provavelmente contra o próprio, o republicano Tarcísio de Freitas sabe que precisa pensar um milhão de vezes antes de topar a parada. Com a reeleição praticamente assegurada em São Paulo, ele tem medo do risco que fatalmente correrá caso o adversário seja o atual presidente. Antes de qualquer aprofundamento da narrativa, é bom lembrar que, apesar da idade, Lula da Silva está perfeitamente lúcido e capaz de subir a rampa do Palácio do Planalto pela quarta vez.
Sugiro àqueles que teimam em afirmar que Lula está gagá um tête-à-tête de cinco segundos com dona Janja sobre o gás do mandatário. Não sou e não tenho vocação para fiscal de alcova, mas certamente os invejosos irão se surpreender. Detalhes que não ao caso em assuntos de tantas emoções como a política. Mas o que faz Tarcísio, o papável preferido da direita, se manter na ribalta presidencial? Seria medo dos “patriotas” ou uma eterna e desnecessária gratidão? Mistério!
Nos bastidores mais céticos, a resposta é simples: ele vai insistir com a mentira e jurar até o fim que Jair Messias não é carta fora do baralho. Depende de quem seja o dono do baralho. No escurinho, Tarcísio não tem dúvida de que, nas cartas do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro está mais para dois de paus do que para sete belo. Ás de ouro nem no carteado viciado da malandragem. Ou seja, como no sério e rico jogo do bicho, é cobra cascavel na rabeira e águia na cabeça. Podem apostar.
Atormentando a direita dia e noite, a águia voa longe e tem nome e sobrenome. Azarões com qualquer pangaré, os demais governadores da direita são candidatos à Presidência, mas até mesmo suas testemunhas mais próximas sabem que, sem chances de reeleição, Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Júnior (PR) e Romeu Zema (MG), com alguma folga conseguem se eleger para o Senado Federal, casa revisora do Congresso, considerada o céu para aqueles temporariamente sem estrelas. Embora ainda se sintam no paraíso, os bolsonaristas sabem que estão à beira do inferno.
Entre os sem estrelas, Jair Bolsonaro, mesmo com o suposto apoio de sua fiel bancada, dificilmente deixará de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal. A dúvida é sobre o cumprimento da pena: domiciliar com tornozeleira eletrônica ou recolhido e sem banho de sol diário. Qualquer das hipóteses manchará seu cinzento nome e azedará de vez a relação com os fanáticos de ocasião. É essa a verdade aguardada pelos oportunistas e que nenhum bolsonarista quer ouvir. Oportunista com crachá de sábio político e negacionista da tese de que a direita sem Bolsonaro é direita sem voto, o ex-presidente Michel Temer resolveu se antecipar à desgraça bolsonarista.
Mesmo amigo do antigo rei, publicamente ele vem estimulando os governadores de oposição a lançarem suas pré-candidaturas, deixando a decisão final para o primeiro semestre do ano que vem. Mui amigo! De caso pensado, Temer arrumou uma briga feia. Sem chance alguma de reverter a inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral, mas certo de que mantém a “usina” de votos, Jair quer a primazia da indicação do candidato da direita. Temer e Bolsonaro precisam dizer um para o outro que, entre eles, há um Lula preocupado, mas cada vez mais Lula lá.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
