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Maranhão tem pedaço do tesouro verde da Amazônia no Nordeste

Quando se fala em Floresta Amazônica, a imagem que vem à mente geralmente é a de estados como Amazonas e Pará, com rios imensos e vastidões de floresta fechada. Mas o bioma amazônico também se estende até o Nordeste brasileiro, especialmente no Maranhão, onde ocupa quase dois terços do território do estado. Essa região, conhecida como Amazônia Maranhense, é um ponto de encontro entre diferentes biomas: Amazônia, Cerrado e Caatinga, o que a torna ainda mais singular.

O Maranhão abriga a porção mais oriental da Floresta Amazônica. Diferente da floresta densa do Amazonas, a Amazônia Maranhense apresenta grande diversidade de paisagens: florestas de terra firme, manguezais extensos no litoral e áreas de transição com o Cerrado. Essa mistura dá origem a uma biodiversidade única.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a região conta com mais de 5 mil espécies catalogadas de plantas e animais. Entre elas, destacam-se o peixe-boi-marinho, encontrado nos mangues, e aves como o guaruba, conhecido como ararajuba, símbolo da riqueza natural maranhense.

A Amazônia no Maranhão é também uma das mais ameaçadas. Historicamente, sofreu com o avanço da fronteira agrícola e da exploração madeireira. Hoje, o estado figura entre os que mais desmatam na Amazônia Legal.

Dados recentes do INPE mostram que, em 2023, o Maranhão perdeu mais de 1,5 mil km² de cobertura florestal, principalmente por causa da expansão da pecuária e do agronegócio da soja. Além disso, o desmatamento costuma vir acompanhado de queimadas, que degradam ainda mais os ecossistemas.

“A Amazônia Maranhense é estratégica. Se continuar sendo destruída, perde-se não só floresta, mas um importante corredor ecológico entre biomas”, alerta a bióloga Helena Sousa, da Universidade Federal do Maranhão.

Diversos povos indígenas vivem nessa região, como os Awá-Guajá, considerados um dos últimos grupos de caçadores-coletores nômades da Amazônia. Também estão presentes os Ka’apor, Guajajara e Tenetehara, que lutam para proteger seus territórios da invasão de madeireiros e grileiros.

Além deles, comunidades tradicionais, como os quebradeiras de coco babaçu, desempenham papel essencial na preservação. O babaçu é fonte de alimento, óleo e renda, e sua coleta fortalece modos de vida sustentáveis.

Apesar das ameaças, existem áreas de proteção importantes no Maranhão, como a Reserva Biológica do Gurupi, localizada na divisa com Pará e Tocantins. Criada em 1988, a reserva é considerada um dos últimos refúgios de floresta contínua no estado.

Outros esforços vêm de iniciativas comunitárias e projetos de bioeconomia, que incentivam o manejo sustentável da floresta e a valorização dos produtos nativos.

“Quando fortalecemos a produção do babaçu, do açaí e do mel silvestre, mostramos que é possível gerar renda sem destruir a floresta”, destaca Raimunda Gomes, liderança das quebradeiras de coco no município de Imperatriz.

O destino da Amazônia Maranhense é decisivo não apenas para o Nordeste, mas para todo o Brasil. Por estar na “borda” da floresta, ela funciona como zona de transição e pode ser um indicador precoce dos impactos das mudanças climáticas.

Proteger esse território significa preservar a diversidade biológica, cultural e climática que faz da Amazônia um patrimônio mundial.

“A floresta no Maranhão é a porta de entrada da Amazônia. Se ela cair, todo o equilíbrio da região corre risco”, conclui Helena Sousa.

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