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Memórias de um carrinho de rolimã nordestino

No calor das tardes nordestinas, quando o sol parecia derreter o asfalto e a imaginação era o brinquedo mais valioso, surgia um protagonista das brincadeiras de rua: o carrinho de rolimã. Construído com madeira reaproveitada, rolamentos gastos e muita criatividade, ele era símbolo de liberdade, adrenalina e infância.

“Eu lembro que juntei pedaços de madeira de uma obra, pedi os rolamentos a um mecânico da rua de trás e levei dias para montar meu carrinho”, conta João Batista, hoje com 45 anos, morador de Aracaju. Como ele, muitos meninos e meninas do Nordeste viveram a emoção de construir seu próprio carrinho de rolimã, um processo que envolvia engenhosidade e trabalho em equipe.

Sem parques ou pistas, a diversão era nas ladeiras do bairro. Os meninos desciam em alta velocidade, sem capacete, guiados apenas pelas mãos firmes no pedaço de madeira. O barulho dos rolamentos no chão era inconfundível, como uma sinfonia de infância. Cada descida era uma aventura, com curvas perigosas, freadas improvisadas e aplausos dos colegas.

Mais do que uma brincadeira, o carrinho de rolimã ensinava valores. “Aprendemos a dividir, a ter paciência esperando a vez, e até noções de física, sem saber”, diz Maria Clara, uma das poucas meninas da época que se aventurava ladeira abaixo. As amizades forjadas nessas tardes ainda duram.

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