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Mercado a céu aberto que move o Nordeste

No compasso apressado das primeiras horas da manhã, o barulho das lonas sendo abertas e o canto dos feirantes anunciam que a cidade acordou. É dia de feira. No Nordeste, essas ruas tomadas por barracas improvisadas não são apenas locais de comércio: são o coração pulsante de comunidades urbanas e rurais.

Em cada banca, a presença da agricultura familiar é evidente. Tomates, pimentas, mangas maduras e raízes recém-colhidas exibem a riqueza do solo nordestino. Muitos dos feirantes vêm de povoados vizinhos, viajando quilômetros para garantir que a produção da semana chegue ao consumidor final.

“É daqui que tiro o sustento da família. Tudo que vendo foi colhido com nossas próprias mãos”, conta seu João, agricultor de 54 anos que participa da feira em Juazeiro, na Bahia.

Um dos principais atrativos das feiras é a negociação direta. O freguês pergunta, pechincha, leva um pouco mais de coentro ou um punhado extra de feijão-verde. Não há intermediação, e esse contato cria vínculos de confiança. Para muitos consumidores, comprar na feira é uma escolha que une economia e tradição.

Entre bancas de frutas e peixes, surgem também barracas de artesanato, redes bordadas e bancas de literatura de cordel. A feira se torna vitrine da cultura nordestina, preservando saberes manuais e narrativas orais. Em cidades como Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), os mercados livres são tão emblemáticos que se transformaram em pontos turísticos.

Apesar da importância, as feiras livres enfrentam obstáculos: a concorrência dos grandes atacadistas, a falta de estrutura e a ausência de políticas públicas de incentivo. Problemas como descarte irregular de lixo e ausência de banheiros ainda afastam parte do público.
Mesmo assim, os feirantes resistem, conscientes de que sua atividade ultrapassa o simples ato de vender.

Mais que comércio, a feira é memória coletiva. Cada freguês que circula, cada vendedor que ergue a voz para anunciar sua mercadoria, reafirma um jeito de viver tipicamente nordestino.
“Se acabar a feira, a cidade perde a alma”, resume dona Maria das Dores, feirante há mais de 30 anos no interior do Piauí.

No fim, as feiras livres do Nordeste sobrevivem porque são muito mais do que comércio. Elas representam resistência econômica, social e cultural diante da modernização excludente. São espaços de autonomia popular, onde se afirma uma identidade coletiva moldada pelo trabalho, pela criatividade e pela convivência.

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