O sabor que atravessa gerações e a força da agricultura familiar do Agreste pernambucano estão ganhando projeção nacional. O tradicional milho crioulo, cultivado há décadas por agricultores de Caruaru e municípios vizinhos, voltou ao centro das atenções e hoje abastece mercados em diferentes regiões do país, impulsionado pelo crescente interesse por alimentos mais naturais, nutritivos e de origem rastreável.
O grão, conhecido pela cor mais intensa, pelo aroma característico e pela textura firme, é a base do chamado “cuscuz crioulo” — receita que preserva o modo de preparo das famílias do interior e carrega um sabor que a indústria de larga escala nunca conseguiu reproduzir. A valorização desse milho tem garantido renda extra e reconhecimento a pequenos produtores, que apostam no cultivo resistente e adaptado ao clima seco do Agreste.
Segundo agricultores da região, o milho crioulo se destaca pela capacidade de enfrentar longos períodos de estiagem, mantendo produtividade sem a necessidade de grandes quantidades de insumos químicos. “É uma semente que já conhece nossa terra. A gente planta como os avós ensinavam, colhe no tempo certo e sabe que o sabor é garantido”, conta um agricultor caruaruense que cultiva a variedade há mais de 40 anos.
A retomada do interesse pelo produto também está ligada ao movimento de valorização da comida regional. Restaurantes especializados em culinária nordestina passaram a buscar o milho crioulo para garantir pratos mais autênticos, enquanto consumidores de outras regiões do país vêm descobrindo o cuscuz artesanal como alternativa mais nutritiva às versões industrializadas.
Cooperativas locais têm desempenhado papel fundamental na expansão desse mercado, organizando a produção, padronizando processos de beneficiamento e facilitando o acesso a feiras e redes varejistas. Com isso, o milho criado em pequenas propriedades familiares de Caruaru chega hoje a empórios especializados, mercados orgânicos e lojas de produtos típicos em capitais como Recife, Salvador, São Paulo e Brasília.
Pesquisadores da área agrícola também acompanham o avanço do cultivo, destacando a importância das sementes crioulas para a preservação da biodiversidade. O milho plantado na região mantém características genéticas únicas, muitas delas já perdidas em cultivos modernos. “Trata-se de um patrimônio agrícola e cultural. Preservar o milho crioulo é preservar a história e o modo de vida de centenas de famílias”, afirma um agrônomo que trabalha com agricultores do Agreste.
Enquanto o mercado cresce e o produto ganha novos admiradores, quem trabalha diretamente com o milho crioulo vê no movimento uma oportunidade de manter viva uma tradição. “O cuscuz daqui tem memória”, resumiu uma agricultora ao exibir a colheita recém-secada. “Quando o povo experimenta, volta para comprar de novo. É a prova de que o que é da terra não morre.”
