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Mulheres rendeiras do Nordeste mostram força

Em meio às paisagens do sertão nordestino, mãos firmes e delicadas seguem um ritmo ancestral: são as rendeiras, mulheres que transformam fios em arte, tradição em resistência e silêncio em voz. Com suas almofadas de birô, bilros e agulhas, elas mantêm viva uma das expressões mais autênticas da cultura popular brasileira.

A arte da renda — em especial a renda de bilro — chegou ao Brasil durante o período colonial, trazida pelos portugueses. Com o tempo, se espalhou por vários cantos do país, mas foi no Nordeste, especialmente em estados como Ceará, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, que encontrou um solo fértil para crescer, se reinventar e se tornar símbolo de identidade cultural.

Nas cidades litorâneas, como Bilro Preta (em Alagoas), Pontal da Barra (em Maceió), Aracati (no Ceará) e em comunidades de Igarassu e Goiana (em Pernambuco), é comum ver mulheres sentadas nas calçadas, rodeadas de linhas e desenhos complexos. Ali, enquanto produzem toalhas, vestidos, blusas e enfeites, elas também compartilham histórias, tradições e saberes que passam de mãe para filha há gerações.

Mais do que uma atividade artesanal, a renda é meio de sustento e empoderamento feminino. Muitas dessas mulheres são chefes de família e dependem da venda de seus trabalhos para sobreviver. Mesmo enfrentando dificuldades como a desvalorização do artesanato, a concorrência com produtos industrializados e a falta de apoio público, as rendeiras resistem — com orgulho e criatividade.

Nos últimos anos, iniciativas sociais, feiras e programas culturais vêm ajudando a dar mais visibilidade ao trabalho dessas mulheres. Algumas comunidades têm criado cooperativas para vender as peças com preço justo e alcançar o mercado nacional e internacional. Grifes famosas também já usaram rendas nordestinas em desfiles de moda, reconhecendo o valor estético e cultural dessa arte.

No entanto, as rendeiras ainda precisam de mais apoio para continuar firmes. Incentivar o artesanato local, valorizar o feito à mão e contar suas histórias é uma forma de reconhecer essas mulheres como o que elas realmente são: artistas, guardiãs da memória e símbolos da resistência feminina no Brasil.

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