Hoje é sexta-feira, dia da polivalência ou da multivalência da curtição, isto é, do tudo – e nunca do nada. Para alguns, não se trata somente do sexto dia da semana a partir de domingo ou o último dia útil do período. Independentemente de que seja sexta, friday, viernes, venerdi, vendredi, freitag, pyatnitsa ou kin’yõbi, para brasileiros, ingleses, espanhóis, italianos, franceses, alemães, russos e japoneses (japonês) é o início do chope na pressão, da goró ilimitada e do auge da estrovenga, cuja definição pode ser subir no paredão, cair com a rabeta no chão, dirigir o rabecão, dormir com o sapatão ou se casar no civil com o dono do morro, o romântico Tonhão.
Como se vê, tudo isso é sinônimo de esbórnia, termo que o dicionário define como festa ou encontro festivo em que predominam a dedicação ao prazer, consequentemente o desregramento. Traduzindo para o bom e sábio português, também podemos dizer farra, pândega ou orgia em excesso. Caso queiramos radicalizar e levar o vocábulo para o centro da política, a referência tende a ganhar sentido mais amplo de festa com dinheiro público e diversão intensa com a credibilidade e, alguns casos, ingenuidade da maioria da sociedade, ocasionalmente denominada eleitorado.
Dia de descanso no judaísmo e no Congresso Nacional, onde o ócio começa ao pôr do sol da quarta-feira, a palavra sexta-feira é derivada da raiz latina que significa sexto dia ou de nomes de deusas como Vênus e Freia, relacionadas ao amor e à beleza. Jornalista, escritor, contista e cronista de costumes, Nelson Rodrigues conceituava a sexta-feira como o dia em que a virtude prevarica. Não disponho de provas concretas acerca da razão da frase. No entanto, sou capaz de jurar que os protagonistas são os nossos ciosos, briosos, competentes e sempre assíduos congressistas.
Minha jura é baseada no verdadeiro significado da expressão cunhada por Nelson Rodrigues: faltar, por interesse ou má-fé, aos deveres do cargo. Tudo a ver com os deputados, senadores e vereadores do Brasil em cima de todos. Falando sério, diria que, em qualquer canto do mundo, sexta-feira é o dia que a fidelidade prevarica. É claro que não me refiro à traição no casamento, noivado, namoro ou na união estável, mas sim ao triunfo da traição sobre o desejo. Na sexta-feira, silenciosamente qualquer um de nós bebe todo tipo de cerveja. Basta que ela esteja gelada e sobre a mesa.
Diriam os poetas de botequim que a sexta-feira é o dia em que as pererecas bebem água no canudo e que os sapos viram príncipes após a terceira garrafa de uísque. É véspera da ressaca, o dia que mais parece mulher bonita, pois todo homem se agita. Enfim, se não a levamos junto, é o dia em que a patroa amanhece e dorme de cara virada. Não custa lembrar que, embora indefinidamente assexuada, a sexta-feira é absurdamente sexy.
Por conta disso, não há quem não a veja como o dia da paz, da alegria, do violão tocando, da picanha assando, da cevada rolando, da mulher te encantando e, perdão pela redundância, do Viagra levantando até defunto morto. Como todo cuidado é pouco, vale registrar que tudo na vida precisa de parcimônia, principalmente quando a esbórnia é realmente ilimitada. E sabem por quê? Porque, depois de uma sexta-feira que a homarada imagina santa, sempre há um sábado e a possibilidade de um inesperado pé na bunda. E qual é a melhor sexta-feira de todas? É a de hoje! Sabem por quê? Simplesmente porque é hoje.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
