A semana terminou com fogos, churrasco e cerveja. Uma decisão histórica num país com largo histórico de golpes e tentativas de golpes lideradas por militares, sempre impunes. Uma condenação com um enorme peso simbólico e consequências políticas. No curto prazo, tende a fazer o bolsonarismo recuar e buscar sua própria salvação. Mas o fato de não ter sido uma decisão unívoca no STF pode ter importância a longo prazo.
Mesmo tendo mandado às favas as convicções jurídicas para salvar a própria pele contra as sanções de Trump com argumentos frágeis e incoerentes, o ato de covardia de Luiz Fux tem coerência política e ideológica. O ministro é um lavajatista de carteirinha e não hesitou em apunhalar os próprios colegas para ecoar a ladainha bolsonarista sobre o autoritarismo de Alexandre de Moraes e do Supremo. O voto divergente, porém, só confirmou que a tal ditadura é uma fantasia.
Mas a manobra de Fux foi pragmática: buscava deixar uma fresta aberta para levar o caso ao plenário do STF, onde os réus contariam com outros ministros simpatizantes da extrema-direita, como Kassio Nunes Marques e André Mendonça. O problema é que Fux ficou totalmente isolado e desmoralizado. Mesmo assim, foi plantada uma semente que poderá ser colhida no futuro, apostando na possibilidade de reversão da pena num hipotético cenário mais favorável, seguindo uma estratégia similar àquela que Zanin usou na defesa de Lula no caso da Lava Jato e que foi bem-sucedida.
O fato de Fux ter jogado para a torcida bolsonarista também deixa aberto o caminho para uma possível carreira política na direita depois da aposentadoria no Supremo, o que repetiria a trajetória de outro eminente personagem saído do meio jurídico, o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro. Já para o governo, a condenação e prisão de Bolsonaro traz alívio e sensação de justiça, mas também pode trazer problemas. Afinal, nos últimos meses a direita dominou as páginas policiais e sua saída de cena pode dar maior visibilidade para as iniciativas do governo, mas também para seus problemas, como a CPI do INSS, que até agora teve pouca repercussão.
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O boletim O Ponto é produzido por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
