Notibras

Narrativas de uma terra de muitos contrastes diários

Os olhos do sertão nunca mentem. Eles carregam no brilho seco da paisagem a verdade dura da terra rachada, mas também o milagre de cada pequena flor que insiste em nascer onde ninguém juraria que pudesse. Quem atravessa essas estradas de poeira logo percebe: o sertão não se oferece de primeira, ele se revela aos poucos — como quem testa a coragem de quem chega.

Nas manhãs, o sol abre o dia com pressa, incendiando telhados, cercas e horizontes. A claridade expõe tudo: as casas simples, o canto distante do galo, o silêncio comprido das famílias que aprenderam a esperar o que nunca vem no tempo certo. Mas basta a tarde cair para que o sertão mude de rosto — as sombras alongam, os ventos refrescam a memória e as conversas reaparecem nas calçadas como velhos conhecidos.

É nessa mudança de luz que o sertão mostra seus contrastes. Aqui, a seca e a esperança caminham lado a lado, como se uma ensinasse a outra a seguir. O mesmo chão que castiga também acolhe. O mesmo povo que sofre também festeja. A mesma alma que resiste também sonha — e sonha grande, porque no sertão o impossível sempre encontra um jeito de ser teimoso.

Cada narrativa nasce de um olhar: o da criança que corre atrás de um bode arisco, o da mulher que varre a calçada enquanto espia o céu em busca de chuva, o do vaqueiro que conhece o mapa do mundo pelo cheiro do vento. São histórias que se entrelaçam no compasso lento dos dias, como se a vida precisasse de tempo para ser entendida.

E assim o sertão segue, entre luz e sombra, fome e fartura, despedidas e reencontros. Terra de extremos, sim — mas também de uma beleza que só se revela a quem sabe olhar. Porque os olhos do sertão não buscam perfeição: eles buscam verdade. E verdade, por aqui, nunca falta.

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