No coração quente do Nordeste, onde o sol parece nunca se cansar e o vento traz lembranças antigas, ecoam vozes que por muito tempo foram silenciadas. São vozes de mulheres que aprenderam a falar mesmo quando o mundo dizia que o silêncio era virtude.
Nas feiras, nas ruas de barro, nas cozinhas e nos sindicatos, elas contam histórias de um tempo em que ser mulher era viver em alerta. “Homem que é homem manda”, diziam os mais velhos, repetindo a velha herança do machismo que se disfarça de tradição. Mas hoje, essa crença começa a rachar como o chão seco depois da chuva.
Maria, lavadeira de mãos calejadas, aprendeu que amor não deve doer. Severina, professora, descobriu que ensinar meninas a sonhar é um ato de rebeldia. E Joana, que apanhou calada por anos, hoje ergue a voz nas praças, lembrando que coragem também tem rosto feminino.
O Nordeste, terra de cantos e resistências, testemunha uma mudança lenta, porém firme. As vozes femininas se entrelaçam, formando um coro de denúncia e esperança. Falam contra o machismo que mata, mas também anunciam um novo tempo — onde o respeito é semente e a igualdade é colheita.
Ainda há quem feche os ouvidos, quem diga que “as coisas sempre foram assim”. Mas o eco dessas vozes não se cala mais. Ele atravessa as serras, cruza os sertões e chega às cidades, lembrando a todos que o Nordeste também é feito de mulheres que ousaram dizer: “Basta.”
Porque o machismo pode até ter raízes fundas, mas o vento da mudança vem soprando forte — e nele, o som das vozes do Nordeste se torna cada vez mais impossível de ignorar.
