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No gramado da política, o jogo só termina com o apito final da urna eletrônica

Perfeita para os dias atuais, a frase da moda parece ter sido escrita para os eleitores do tipo fariseus. Embora legalista, a política segue a tradição dos homens. Por isso, ela é hipócrita e muito chegada à regras nem sempre tradicionais. A expressão uma coisa é ser contra Lula, outra coisa é ser a favor de Bolsonaro nos obriga a raciocinar. Infelizmente, muitos dos brasileiros contemporâneos preferem que pensem por ele. Daí porque, para muitos, Lula é o fariseu. Pobres são aqueles que vivem de suas próprias regras.

Ideologia ou partidarismo à parte, o primeiro item do meu cardápio político é aquele que, mesmo ruim para alguns, inegavelmente fez muito mais a favor do país. Portanto, ignoro política e socialmente o que preferiu ser contra a própria pátria desde que surgiu no horizonte político. É o mesmo que claudicou como militar, passou despercebido como político, desprezou o país que diz amar como presidente da República e, como ex-mandatário, permanece pisando no pescoço do povo que finge defender. A escusa sociedade com Donald Trump, via o filho 03, é a prova de sua robusta intolerância com o Brasil e com os brasileiros.

Amante inveterado do futebol, já vi de tudo dentro e fora das quatro linhas, onde estive por anos a fio como profissional de imprensa e onde estou há décadas como torcedor. Assisti in loco a vitórias encomendadas, viradas espetaculares, goleadas inesquecíveis de times de pequeno investimento em equipes milionárias e atitudes antidesportivas de dirigentes mau caráter que, para impedir derrotas ou rebaixamentos, misturavam propositalmente o tabuleiro do jogo. É claro que o futebol é só o pretexto para lembrar aos políticos da direita e da esquerda que, a exemplo do campo, o jogo só termina quando acaba. Melhor dizendo, no gramado da política o jogo acaba no apito final da urna eletrônica.

De um lado, Luiz Inácio, o dono da máquina e hoje inquilino incontestável do Palácio do Planalto, está a cavaleiro, aguardando apenas 2026 chegar. De outro, mesmo inelegível, Bolsonaro afirma que qualquer um de seus postes vence Lula de barbada. Por enquanto, vislumbro mais uma encarnação para o barbudo e o calabouço para quem se acha barbada. A urna eletrônica já derrubou estrelas de brilho intenso, ao mesmo tempo em que fez surgir meteoros sem luz própria, com discurso pífio, mas de palavras fáceis e bem ao gosto do eleitor comum. Os exemplos são vários, mas fiquemos nos bizarros Tiririca, Enéas e o pedreiro roraimense João França.

Na vida e na política, a dança das cadeiras é como uma aposta que não admite trapaças, muito menos blefes. Aqueles que apostam alto demais nem sempre gostam da recompensa. Quem não se lembra das eleições presidenciais de 2022. Por pura soberba, a direita liderada pelo clã Bolsonaro, montado para se perpetuar no poder, cantou vitória antes do tempo e perdeu feio para um cidadão recém-saído do calabouço. Para os bolsonaristas raiz, sem caules e desfolhados, a derrota parece ter sido apenas um acidente de percurso. O tempo passou e eles não aprenderam nada com a solapada da esquerda.

O resultado foi muito mais estrondoso do que já foi a administração de Lula da Silva. Nada que justifique a histeria da direita sobre o suposto fracasso do Lula 3. Pelo contrário. Donald Trump e seu tarifaço que o digam. Volto às viradas espetaculares. Pelo andar da carruagem, sejam de direita, de centro ou de esquerda, a realidade brasileira não permite mais candidatos invencíveis. Como o país carece de nomes capazes de unir gregos, troianos, candangos e baianos, certamente o vencedor das eleições de 2026 será o presidenciável menos ruim. Muita água ainda há de rolar sobre e sob essa ponte chamada polarização. Vale lembrar que estamos distantes da Copa do Mundo e das eleições de 2026.

Por isso, ainda que se some àqueles que apostam dois mil réis em Lula na cabeça, não cravo quatro tostões no cancelamento de Bolsonaro por um dos governadores que se apresentam como seus aliados, muito menos três pesos dolarizados em Javier Milei entregando a taça de tetracampeões ao escrete argentino. Portanto, não é de bom alvitre cantar de galo no terreiro alheio quando não se sabe o tamanho do bico da ave do vizinho. Até agora, acreditar que o Brasil será campeão, que o país sonha com o Lula 4 e que Bolsonaro fechará com Tarcísio de Freitas é o mesmo que não jogar e sonhar ganhando sozinho 100 milhões na Mega-Sena. Melhor não contar com o ovo no bico da galinha antes dele sair pelo orifício natural.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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