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No país da piada pronta, ri melhor quem ri por último

Do ponto de vista político, o Brasil é uma piada pronta. Do ponto de vista eleitoral, o mesmo Brasil lembra a savana africana, onde um bando de leões busca diariamente presas indefesas. É um formigueiro de partidos para um povo partido. Também é um palco a céu aberto para um concurso de mentirosos. Na terra de Cabral, normalmente ganha a eleição quem mente melhor. São os riem primeiro. Dizem os pensadores que cada povo tem o governo que merece. Se a afirmação é verdadeira, que tipo de povo temos sido?

Do ponto de vista cultural, poderia sintetizar a resposta afirmando que votamos muito melhor no BBB. Ou seja, como a máxima do falecido Pelé, somos piores do que a soma de zeros. Estamos a pouco menos de um ano das eleições gerais de 2026. Está chegando a hora de ir para a zona. Como em período eleitoral vale tudo, inclusive comer pastel em feiras livres, aproveitemos a época, pois a eleição é o único momento em que o político se aproxima do povo.

É a chamada “festa da democracia”. Aliás, nada mais redundante e paradoxal do que esse termo inventado por alguém que provavelmente enxerga política como a arte de escolher entre o desastroso e o intragável. Como denominar de festa uma coisa que é obrigatória e, no caso de falta, é passível de sanções, algumas pecuniárias. Financiadas pelas mesmas indústrias que vendem pasta de dente, sabão em pó e carnes embaladas na televisão, as eleições são feitas para o povo perder. E não importa o partido que ganhou.

Mesmo vivendo há anos no meio da malandragem política do país, o que ainda não consegui engolir é a máxima de que, no Brasil, o crime não compensa. Se não compensa, por que há tantos candidatos a cargos políticos? Político não é Sassá Mutema. Pelo contrário, no país da corrupção e da impunidade, eleição é apenas o processo pelo qual escolhemos aqueles que irão nos roubar durante quatro ou oito anos. Pior são os que usam eleitoralmente o nome de Deus almejando sua própria glória.

Considerando que Deus não é cabo eleitoral de ninguém, qualquer juiz de quinta categoria definirá o argumento como usurpação de poder. Foi o que fizeram com o mito de geladeira e certamente farão com quem ele indicar para tentar sucedê-lo em 2026. Politicamente, já li e ouvi coisas boas e ruins sobre o camaleônico Brasil. Nada, porém, tão definitivamente perfeito como a tese de que somos um país tão incrível que até os ateus, em épocas de eleição, recorrem a Deus para ganhar votos. E fazem isso com a certeza de que serão perdoados. Essa é a maior de nossas piadas políticas.

Não estejam tão certos disso. Um dia a incoerência, as contradições, os disparates e a insensatez política serão cobrados com juros e correção monetária. Esse dia está mais próximo do que os hereges imaginam. Em breve, o circo político brasileiro começará a ser montado para as eleições presidenciais de 2026. Como em 2018 e 2022, haverá muitos truques, ilusionismos e fake news. Entretanto, dificilmente conseguirão tirar o mesmo coelho da cartola. Talvez saia novamente um sapo barbudo. Comparando a eleição entre Jair e Lula com a Corrida Maluca, sabem por que o Dick Vigarista nunca ganha a disputa? Porque, em vez de tentar vencer, ele perde tempo tentando atrasar a vida dos outros. Ri melhor quem ri por último.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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