No sertão, onde o sol se deita pesado sobre a terra rachada e o vento carrega a poeira dos dias difíceis, cada passo é uma oração silenciosa. Ali, a vida não se aprende nos livros, mas no chão quente, nos olhos do gado, no tempo das chuvas que às vezes vêm, às vezes não.
Dona Elzenira, com seus pés firmes e a fé que nunca esmoreceu, sempre dizia que o sertão não é lugar para quem teme a dureza — é para quem carrega esperança nos bolsos. Cresceu vendo a mãe acender velas para pedir chuva e o pai abrir valas para tentar guardá-la.
Cresceu ouvindo que fé não é esperar sentado, é caminhar mesmo quando a estrada parece infinita.
E ela caminhou. Caminhou na seca, caminhou na bonança, caminhou na dor. Levou consigo filhos, histórias, rezas e memórias.
E em cada canto do sertão deixou um pouco de si: um sorriso dado a quem precisava, um copo d’água dividido em tempos de escassez, uma promessa feita no santuário distante que visitava todos os anos.
Hoje, já com o tempo marcando seu rosto, Dona Elzenira senta-se na calçada ao entardecer e observa o céu tingir-se de laranja. E sempre repete as mesmas palavras, como quem sabe que a vida é simples, mas profunda:
— No sertão, a fé é a água que nunca seca.
E assim segue sua trajetória — feita de luta, de silêncio e de milagres pequenos. Porque no sertão, sobreviver já é uma graça. E quem vive, vive pela força do coração e pela esperança que insiste em nascer, mesmo quando o chão parece árido demais.
