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Nordeste afro-brasileiro tem a força de uma herança que molda o Brasil

O Nordeste brasileiro é um dos territórios onde a presença africana mais se enraizou, influenciando a língua, a religião, a culinária, a música e as festas populares. Da Bahia ao Maranhão, a cultura afro-brasileira é não apenas um patrimônio histórico, mas também uma força viva que continua moldando identidades e resistindo ao apagamento.

Entre os séculos XVI e XIX, milhões de africanos foram trazidos ao Brasil como escravizados, e muitos desembarcaram nos portos nordestinos — especialmente em Salvador (BA), Recife (PE) e São Luís (MA). Esses povos trouxeram consigo saberes, espiritualidade, música e formas de viver que resistiram mesmo diante da violência da escravidão.
As influências mais marcantes vieram de etnias iorubás, jejes, hauçás, bantus e angolas, cada uma contribuindo para a formação cultural nordestina.

O Candomblé na Bahia, o Tambor de Mina no Maranhão e a Jurema Sagrada em Pernambuco e Paraíba são exemplos da força da religiosidade afro-brasileira no Nordeste.

Essas práticas não apenas mantêm viva a conexão com os orixás, voduns e encantados, mas também representam formas de resistência cultural frente à opressão histórica e à intolerância religiosa.

Os terreiros são centros de cultura, onde a música, a dança e a oralidade preservam tradições ancestrais.

O samba de roda baiano, o maracatu pernambucano, o afoxé e o reggae maranhense têm raízes profundas na cultura africana. Em Pernambuco, o maracatu-nação mistura tambores, alfaias e cantos que narram histórias de reis e rainhas negras.
Na Bahia, o samba-reggae e o ijexá embalam blocos afro como Ilê Aiyê e Filhos de Gandhy, símbolos de orgulho e resistência negra.

A influência africana na culinária do Nordeste é marcante. O uso do dendê, do leite de coco e de temperos intensos é uma herança direta. Na Bahia, o acarajé e o vatapá são ícones; no Maranhão, o arroz de cuxá traz ingredientes e modos de preparo de origem africana; em Pernambuco e Alagoas, pratos como mungunzá salgado e peixadas revelam essa fusão cultural.

O carnaval de Salvador, com seus blocos afro, é o evento mais conhecido, mas não é o único. No Recife e Olinda, o maracatu e os afoxés desfilam com forte identidade africana. No Maranhão, o Tambor de Crioula — reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil — celebra dança e percussão herdadas da África.

Essas festas não são apenas entretenimento: são afirmações de identidade e orgulho.

Apesar da riqueza cultural, a herança afro-brasileira no Nordeste ainda enfrenta desafios como o racismo estrutural, a marginalização e a intolerância religiosa. Organizações culturais e comunitárias têm trabalhado para registrar, ensinar e difundir essas tradições, garantindo que novas gerações mantenham viva essa herança.

A cultura afro-brasileira é um símbolo vivo de resistência contra o racismo e a discriminação, além de um patrimônio imaterial do Brasil que precisa ser valorizado e protegido. É uma herança que conecta passado e presente, reafirmando o orgulho e a identidade da população negra baiana e brasileira.

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