A notícia chegou como trovão em céu azul de caatinga: Donald Trump, de novo no Salão Oval e ainda com gosto de revanche, decidiu apertar os cintos sobre o Brasil. Tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo o que há de mais nordestino no tabuleiro da exportação: frutas, tecidos artesanais, calçados de couro, camarão e cachaça.
Na feira de Juazeiro, Seu Nivaldo, exportador de manga para a Flórida, olhava o celular com a testa enrugada. “É o fim do meu sonho americano”, murmurou, vendo os contratos evaporarem no WhatsApp. Em Petrolina, as barcas que levavam melão pelo rio São Francisco ficaram estacionadas, como se esperassem um milagre. E em Campina Grande, o algodão orgânico da cooperativa feminina viu-se encalhado em armazéns, com cheiro de esperança vencida.
Trump, dizem, retaliou por questões geopolíticas, mas quem sentiu o baque foi Dona Marlene, em Mossoró, que teve que demitir três costureiras porque a fábrica de roupas parou de vender para Miami. A tal “grandeza da América”, que ele tanto grita em palanques, virou sinônimo de miséria alheia do lado de cá do Equador.
O Nordeste, que há anos vinha aprendendo a se equilibrar entre o sol escaldante e o dólar volátil, foi derrubado como quem tropeça numa pedra invisível. Prefeitos apelam ao Planalto, governadores reúnem conselhos emergenciais, mas o presidente Lula, embora tenha falado grosso, sabia que enfrentar Trump é como gritar com o vento.
Na beira do Atlântico, jangadeiros de Icapuí voltaram com redes vazias e semblantes mais ainda. “A gente pesca, mas não sabe se vende”, disse um deles. A economia local, que tanto se reinventou com pequenos arranjos produtivos, agora enfrenta o peso de uma guerra comercial sem ter entrado nela.
Mas, como sempre, o Nordeste não se entrega fácil. Em Olinda, uma cooperativa de maracujá começou a buscar mercados na África. Em Caruaru, artesãos lançaram um e-commerce com slogans em francês. E em Salvador, estudantes de economia da UFBA criaram um observatório de alternativas contra o tarifaço.
Porque se Trump ergue muros tarifários, o povo nordestino constrói pontes — nem que seja com madeira, suor e forró. A seca ensinou que o sofrimento não é o fim. É só mais uma curva na estrada. E o Nordeste, meu amigo, nunca teve medo de estrada longa.
