Por muito tempo, o Nordeste foi embalado em folhetos turísticos que vendiam mais do que praias paradisíacas e coqueiros balançando ao vento. A imagem que atravessou o Atlântico, especialmente para muitos homens europeus, era a de um paraíso não apenas natural, mas sexual. Corpos bronzeados tornaram-se produtos. A beleza virou promessa. E a dignidade de um povo inteiro foi, muitas vezes, reduzida à margem de desejos alheios.
Mas o tempo, com sua maré persistente, tem lavado essas areias.
Hoje, quem pisa nas calçadas de Recife Antigo ou percorre os becos históricos do Pelourinho encontra um outro Nordeste. Ainda quente, ainda vibrante — mas consciente de si. A juventude tem orgulho das suas raízes afroindígenas, das suas músicas, da sua culinária, da sua luta. Mulheres — antes vistas como “exóticas” em olhares colonizadores — agora estão no centro das discussões, ocupando espaço, falando alto, denunciando, exigindo respeito.
Os turistas continuam vindo, claro. Mas agora encontram um destino que sabe o seu valor. As praias seguem belas, o sol continua generoso, mas já não são o cenário para roteiros de exploração silenciosa. Há cartazes, há campanhas, há alertas. O que antes era aceito com um “deixa pra lá”, agora é enfrentado com debate e ação.
Talvez o Nordeste não tenha mudado tanto. Talvez ele só tenha decidido não mais se calar. E isso, mais do que qualquer campanha de marketing, é o que transforma um destino turístico em um território de verdade.
