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Nordeste vive desigualdade aguçada com impacto da crise econômica

O sol ainda nasce com a mesma força no sertão. A terra continua a rachar sob o peso da seca, e o vento, teimoso, sopra poeira e esperança misturadas. Mas há algo diferente no ar — uma sensação de cansaço que vai além do calor. É o peso de uma desigualdade que se tornou mais funda, mais dura, mais cruel.

A crise econômica, que chega pelas manchetes e pelos números frios, aqui tem rosto, nome e fome. Nas feiras, o que antes era barulho e vida virou silêncio e escassez. As bancas estão mais vazias, e o povo aprendeu a medir o que compra em “metade” — meio quilo de arroz, meio litro de óleo, meio sonho de dias melhores.

O sertanejo, que já enfrenta a seca com coragem ancestral, agora luta também contra um tempo de incertezas. O dinheiro que não chega, o trabalho que some, o auxílio que atrasa. E, no meio disso tudo, a força de continuar — de plantar mesmo sabendo que talvez não colha, de sorrir mesmo com o prato vazio.

Mas o Nordeste não é só dor. É também resistência. É o povo que transforma barro em arte, seca em canção, e adversidade em fé. É a mulher que, com as mãos calejadas, ainda encontra tempo pra bordar flores em panos simples — lembrando a todos que beleza também nasce da dureza.

A crise veio como uma ventania, levando o pouco que muitos tinham. Mas o que ela não levou — e nunca levará — é o espírito de quem insiste em viver, mesmo quando o mundo parece desabar. No Nordeste, a desigualdade dói, mas a esperança ainda respira, firme como o mandacaru que floresce na aridez do sertão

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