No amanhecer rachado do Sertão, quando o sol ainda engatinha por detrás da caatinga, muitos já preparam o caminho que seguirá para longe — às vezes longe demais do que o coração queria. O chão seco não oferece escolha; a vida, ali, é uma rédea curta que obriga o sertanejo a aprender a resistir cedo. Entre a poeira levantada pelo vento e o canto rouco dos galos, nasce também o sonho de dias mais fartos.
E é assim que tantos seguem viagem para as capitais, com a mala cheia de esperança e o bolso cheio de coragem. Recife, Salvador, Fortaleza — cidades que brilham de longe como promessa, mas revelam, de perto, o peso de uma vida recomeçada. A chegada é sempre um impacto: a pressa das ruas, o vai-e-vem de gente que não se olha, o concreto que engole o horizonte. Quem vem do Sertão aprende rápido que, na cidade grande, o tempo parece correr para não cansar.
Mas o sertanejo não desiste. A luta por uma vida digna continua em cada esquina, em cada ônibus lotado antes do sol nascer, em cada obra levantada no calor que parece mais quente que o do próprio interior. Há quem limpe, quem venda, quem construa, quem cozinhe; todos contribuindo para uma cidade que sequer percebe os ombros que a sustentam.
Mesmo assim, o Sertão não sai da alma. No final do dia, entre uma marmita revirada e um descanso merecido, a lembrança da terra vermelha, da fogueira nas noites frias e do cheiro de chuva que nunca vinha, volta como um acalanto. Porque quem nasce do chão bravo aprende a carregar dentro de si uma espécie de raiz que não se quebra — apenas se estica para alcançar novos territórios.
A luta é dura, mas é também bonita. O sertanejo que pisa na capital traz consigo a força de quem já enfrentou a escassez, a dor e o abandono. E, apesar de todas as barreiras, segue firme — porque a vida digna não é um luxo: é um direito. E para quem veio do Sertão, conquistar esse direito é mais que necessidade; é, sobretudo, prova de que esperança, quando nasce no coração nordestino, é teimosa demais para morrer.
