O sol nasce cedo na Caatinga, sem pedir licença. Ele invade o batente das portas, atravessa as frestas de madeira e acorda o povo antes que o galo pense em cantar. No Nordeste profundo, o dia começa assim: duro, seco, mas cheio de um tipo de esperança que teima em não morrer.
A terra, rachada como pele antiga, guarda segredos de quem já chorou pela chuva. Cada fenda é uma história. Cada galho retorcido da jurema parece apontar para um destino que só os sertanejos compreendem. E compreendem porque aprendem cedo que sobreviver ali não é escolha — é necessidade.
No terreiro, Dona Alzira varre a poeira que nunca se acaba. Diz que é para manter a mente ocupada, porque se ela parar, a tristeza da seca entra sem pedir. Seu Zé, com o chapéu gasto e a coragem de sempre, parte pra longe, em busca de um resto de água no açude quase morto. Ele caminha como quem carrega o peso de um mundo: passos lentos, olhos atentos, fé grande.
E, ainda assim, no meio de tanta dureza, o Nordeste continua belo. Não a beleza dos cartões-postais, mas a beleza crua, verdadeira — aquela que nasce do povo. Porque o sertanejo inventa alegria até na falta. Um forró improvisado no alpendre, o cheiro de café coado, a conversa na sombra do umbuzeiro… Tudo ali é vida resistindo ao abandono.
À noite, quando o vento chega arrastado, a Caatinga parece sussurrar. Fala das partidas dos retirantes, fala da fome que ronda, fala das promessas quebradas pelos que nunca pisaram naquela terra. Mas também fala da força: a força de um lugar que, mesmo castigado, não se curva.
Nordeste, meu Nordeste… Terra de luta, sim. Terra de dor, também. Mas, acima de tudo, terra de gente que transforma a seca em história, a poeira em poesia e a resistência em identidade.
E é por isso que, mesmo na realidade crua da Caatinga, ainda tem espaço para sonho. Porque quem nasce ali aprende que esperança não dependep de chuva — depende de coragem.
