No sertão de Alagoas, no calor que abraça e o vento que assovia por entre os coqueiros, já se sente no ar um clima diferente quando o mês de junho chega. Não é só pelo São João que vem chegando com suas bandeirolas coloridas e cheiro de milho cozido. É que, antes mesmo das quadrilhas começarem a ensaiar, tem um outro festejo que acelera o coração dos apaixonados: o Dia dos Namorados.
Maria do Socorro, conhecida na rua como Socorrinha, já começa os preparativos com semanas de antecedência. Lustrando o mesmo perfume que ganhou de presente no ano passado — “Cheiro de Amor” —, ela anda pelas ruas de Paripueira suspirando, escolhendo o vestido que vai usar para impressionar Zé Pedro, o namorado que ela diz ter ganhado “de loteria”. “Esse ano vai ter jantar à luz de velas e tudo. E nem precisa ser em restaurante, não. Vai ser na calçada, com vela de aniversário e farofa de cuscuz com ovo”, ela conta, rindo.
Na vizinhança, o clima é de festa e ansiedade. Cada casal tem seu jeito de celebrar. Uns preparam serenatas com sanfona e zabumba. Outros escrevem cartas à mão, como antigamente, com palavras que cheiram a saudade e doçura. Tem até quem vá à feira comprar presentes: um ramalhete de flor de mandacaru, um sabonete cheiroso ou um coração de crochê.
Os bares e botecos da cidade, que geralmente tocam forró o ano todo, no Dia dos Namorados ganham um repertório mais meloso: Fagner, Reginaldo Rossi e até umas modas de viola que fazem chorar mais que cebola cortada.
Mas não é só romance, não. Tem ansiedade também. Joãozinho, que tá começando o namoro com Luzinete, já trocou de camisa três vezes só pra ir comprar o presente. “Será que ela vai gostar? Será que ela me ama mesmo ou é só fogo de palha?”, ele pergunta ao vento, enquanto a mãe dele diz: “Vai com fé, meu filho. Amor que é amor resiste até a fila do SUS”.
E assim, entre sorrisos, tremores e esperanças, o Nordeste se enfeita de coração. Porque por aqui, o amor é festejado como se fosse São João: com dança, comida boa, sanfona e muita fé no futuro. No Dia dos Namorados, todo mundo vira poeta, mesmo que só saiba rimar “paixão” com “coração”. No serão, no agreste, na zoina da mata e no litoral.
