Arremedo de mandatário e político de muitos gritos e de xingamentos chulos, mas de pouquíssima ação e nenhum resultado prático, o ex-presidente Jair Bolsonaro acordou neste domingo (29) decidido a reassumir a Presidência da República. Eleito por uma elite despreparada, brincalhona, mas esperta quando o assunto é viver às custas do Erário, o mito inventado na imprensa paga travou o país por quatro anos. Tantas ele fez que perdeu a eleição, o respeito da maioria e provavelmente perderá em breve a liberdade que, via golpe de Estado, tentou tirar dos brasileiros que prezam pela perenidade da democracia.
Alijado da política até 2030, o senhor de todos os pastores e de muitos agropecuaristas, como se fosse um artista de primeira grandeza, está de volta às ruas. Com o mesmo discurso da perseguição e da falta de brasilidade de setores do Judiciário, o líder dos diferentes está em São Paulo em busca de um habeas corpus ad aeternum do povão que, com algumas canetadas, abandonou à própria sorte. É claro que não terá. Banido das urnas, mas disposto a ver o mundo acabar em rabanada para, mesmo recolhido, ficar enrolado com açúcar e canela, o ex-presidente e seus aliados sabem que será mais uma cartada rumo ao nada.
O novo e derradeiro esperneio marcado para a Avenida Paulista terá novamente muitos adereços, fantasias em verde e amarelo encardido, alguns passistas, uma bateria sem repiques e descompassada e um samba-enredo repetitivo, pífio, chato, sem concordância alguma e desagradável até mesmo para os surdos de nascença que não engolem a sinopse da vitimização. O que fazer se o moço se acha a última bala do pacote? Talvez confeccionar faixas e cartazes com cores fortes e com desenhos marcantes e capazes de convencê-lo de que não há hipótese de a evolução da ala de fanáticos receber nota dez na passarela da política.
Com falhas graves de conduta e buracos enormes entre o prometido e o produzido, é bom que os “patriotas” se preparem para o zero na dispersão do tapete vermelho utilizado pelos juízes do Supremo Tribunal Federal. É nele que, mais dia, menos dia, será anunciado o descenso do presidente de todos os males para o grupo especial dos que dormem em cela fria. E não adianta mais recorrer à falsa mansidão, muito menos às demonstrações de supostas irregularidades no conjunto da obra apresentada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Tudo pode acontecer em outubro de 2026, inclusive um quarto mandato para Luiz Inácio de todos os adjetivos. O que não acontecerá é a volta dos que não foram por se acharem os melhores do mundo. Como diriam os poetas repentistas, alea jacta est. A sorte está lançada e ponto final, sem exclamação, vírgulas ou reticências. Ao contrário do bordão ensaiado para a manifestação deste domingo, o pedido de justiça já será atendido muito antes do que imagina a vã filosofia dos “patriotas” fantasiados de deputado, senadores, governadores e até trabalhadores atrapalhados.
A alegação de que o julgamento conduzido por Moraes tem numerosas irregularidades é tão reles e desprezível como o enredo a ser apresentado à plateia de sempre. Apesar de o retorno de Donald Trump à Casa Branca e da insistência de Jair Bolsonaro em tropeçar nas leis e na Constituição ter obrigado a população brasileira a entrar no modo alerta geral, por enquanto a ordem da sociedade que aspira pela consolidação da democracia é lembrar a Bolsonaro que, além do Até Logo convencional, o povo comum também sabe dizer Tchau, Hasta la vista, Au revoir, Arrivederci, Adios, Aus Wiedersehen e Sayonara. Portanto, mais uma vez Jair Messias fechará a Avenida Paulista apenas para lembrar aos “patriotas” que está próximo a hora do juízo final.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras
