O sol queimava sem piedade, tingindo a terra de vermelho e poeira. No sertão, cada fenda do chão rachado era como uma ferida aberta, lembrança viva da seca que teimava em não ir embora. Era o ano de 1915, e o Nordeste se via novamente às voltas com a dor da estiagem, quando a chuva virava promessa esquecida no céu limpo demais.
Rachel de Queiroz transformou essa dor em literatura. O Quinze não é apenas a história de Conceição e Vicente, nem de famílias que partem em busca de sobrevivência. É o retrato de um povo que resiste. O romance mostra a fome, a sede, a migração, mas também a coragem de continuar. No coração da seca, brota a esperança, ainda que frágil como um mandacaru que floresce na noite silenciosa do sertão.
O livro nos devolve a imagem de um Nordeste que sofre, mas que não se dobra. Cada retirante que segue estrada afora carrega consigo não só a miséria, mas também a fé de que um dia o inverno chegue, de que o gado volte a pastar, de que a vida renasça.
Revisitar O Quinze é ouvir o choro das crianças com fome, sentir a aspereza da poeira no rosto, mas também reconhecer a força de um povo que, mesmo diante da seca mais cruel, aprende a reinventar a esperança.
O Nordeste que Rachel descreveu segue vivo: com sua luta, sua resistência e sua poesia. E se o sertão ainda enfrenta a seca, também continua a florescer na memória e na identidade de quem nele vive.
