Em meio à balbúrdia de um bando de patriotas acampados em frente ao monumento de Duque de Caxias, patrono do Exército, há exatos três anos o Lula 3 aterrissou nas terras férteis e verdejantes de Brasília. Sobre sua cabeça, um fracassado movimento que tentava orientar um carnaval para tomar de assalto um monumento do Planalto Central. Sobre seus pés, a certeza de que, com apoio do povo trabalhador e ordeiro, tudo de bom que se plantasse na Capital do país haveria de crescer e florescer. E viva o Brasil-sil-sil-sil, viva o Brasil-sil-sil-sil-sil.
O luar do sertão, a fala nordestina e o azul cristalino das praias rodeadas de coqueiro foram determinantes para autenticar a vitória do moço da rosa no pulso esquerdo. Enquanto isso, os urubus se perdiam na secura dos jardins do monumento que não mais lhe pertencia. Antes mesmo que a chuva trouxesse de volta os girassóis e as flores do Cerrado, o homem da arma na mão direita decidiu não aceitar a porta da rua do monumento que não mais lhe cabia. Ele não queria, mas ali começava a festa da democracia. E viva a festa-ta-ta, viva a festa-ta-ta-ta.
Emitindo acordes dissonantes pelos cinco mil alto-falantes do Brasil, eis que ressurgiu das cinzas o barbado de Garanhuns, o sapo que, num dia de Ano Novo, fechou os olhos grandes e golpistas da turma das estrelas nos ombros e da súcia da roça financiada pelo dinheiro público. Do alto do monumento bem moderno, em uma manhã que parecia de domingo, sem se importar com o modelo do seu terno, o novo dono do lar gritou para os que não queriam mais vê-lo. Estou de volta e que tudo mais vá para o inferno. E viva a volta-ta-ta, viva a volta-ta-ta-ta.
O tempo passou, o Brasil mudou, o povo esqueceu quem o fez sofrer por quatro anos, mas a loucura dos que adoram o poder e a artificialidade política ainda não passou. Pouco importa, pois, sem possibilidade alguma do surgimento dos tão esperados extraterrestres salvadores dos patriotas, novamente o líder petista subiu aos céus com o Aero Lula e, vestido de presidente, deu a largada para 2026 em solo indonésio. Ao contrário do antecessor, Lula está na pista para ganhar ou perder. Quanto aos recalcados, tentem pelo menos disfarçar o ciúme, sigam reto e vão para a casa do Valdemar. E viva Valdemar-má-má, viva Valdemar-má-má-má.
Piada para uns, pavor para alguns, doidice para outros e alegria para a geral do Brasil, a candidatura de Lula para um quarto mandato nunca foi tão séria. Diante da fragilidade e da falta de combustível para a nave da oposição, também conhecida por bajuladora emérita, da família Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva sabe que o cenário lhe é amplamente favorável. Pode até mudar amanhã ou depois de amanhã, mas por agora, poucos têm dúvida de que o Lula 4 vai decolar. Não é do meu feitio, tampouco do meu agrado, mas fecho com o povo. E viva Lula-lá-lá, viva Lula-lá-lá-la.
Enquanto isso, do outro lado da rua, ministros de toga choram, outros buscam uma nova turma, mas, a exemplo do povão, a maioria dos togados tem consciência de que a ditadura não combina com o Brasil. Na verdade, nunca combinou. Faltam 69 dias para o Réveillon de 2026. Além de tentador e agoniante para os que não se lembram da simbologia do 69, os números nos remetem ao que há de mais promissor para a política nacional: o fim da maldição de Jair Bolsonaro, o homem sério e probo que dizia que vagabundos adoram mamar nas tetas do Estado. A pergunta que não quer calar é simples: onde mamam seus quatro filhos? Viva a verdade-de-de, viva a verdade-de-de-de.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
