Na contramão da seriedade e da honestidade política, a santa família Bolsonaro insiste em manter a pose de bons moços e boas moças, permanece engomando a armadura de discípulos de Adolf Hitler e, sem preocupação com o despertar do povo brasileiro, continua lustrando com cera líquida a pálida e vaselinada cara de pau. A última da série nós escorregô na bosta e enfiô o nariz na melda, foi protagonizada pela Rainha de Sabá Michelle Bolsonaro. Com ares de desinformada, de dondoca que não sabe o que diz ou de mestre de cerimônia de quermesse de igreja evangélica do décimo dia, ela “produziu” uma carta pública direcionada ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
Na carta, que deve ter feito pernetas darem pulos de alegria, Madame Coisinha pede que Lula “baixe as armas da provocação”, pois está na hora de “hastear a bandeira do diálogo e da paz”. Denominando o líder petista de “cobra traiçoeira que se enrola devagar e sufoca sua vítima”, dona ex-primeira-dama afirma que as sanções do titio Trump só foram aplicadas a países reconhecidos como ditadura. Com o rancor escorrendo pelo canto direito da boca e o pavor escancarado nos olhos, a senhora de todos os enganos avaliou o Brasil de Lula da Silva como uma ditadura disfarçada de democracia. “Chega de ódio e de irresponsabilidade”.
Madame Bolsonaro, sua verve é daquelas que hoje ninguém compra nem naquelas ofertas relâmpagos de fim de feira de periferia. Não há como levar a sério um documento escrito com o líquido biliar colhido no primeiro jato do xixi do vosso marido. É brincadeira de péssimo gosto dizer que o Brasil de Lula é uma ditadura. Seria não tivesse Luiz Inácio mandado o capetão para os quintos. Provocação é seu mantenedor, tentando atingir quem o defenestrou da vida pública, exigir que um de seus enteados trabalhasse pela taxação do pobre trabalhador brasileiro. Conseguiu, mas pagará caro por isso.
Na verdade, todos vocês pagarão. Com todas as vênias, mas a senhora e sua carta não merecem nada que não seja o latão de lixo. Perdão aos ruminantes pela comparação, mas o documento, além de lembrar um daqueles textos usados para ninar bezerro desmamado, parece ter sido elaborado exclusivamente para que as toupeiras os usem como rastreadores de “patriotas” envergonhados e escondidos em covas rasas. Sem convencer os postes do condomínio onde mora, a madame sabe que, em breve, será elevada à categoria das patroas que, para não perder a mamata que conseguiu, terá de visitar o patrão todos os fins de semana na casinha fria e sem reboco.
É uma pena que o Brasil tenha sido comandado por uma família rancorosa, belicosa, mas que, sob as bênçãos do prelado do mal Silas Malafaia, tenta posar de bons samaritanos. Nem posar conseguem, pois, na prática, não se engolem. Aliás, são tão imperfeitos que escorregam no próprio veneno até quando pensam em covardemente se vingar dos inimigos que criam em suas mentes doentias. Vivemos em uma democracia que os falsos profetas queriam derrubar. Parafraseando Nelson Rodrigues, às vezes lamento viver em uma democracia, cuja maior desgraça “é trazer à tona a força numérica dos idiotas, hoje, infelizmente, a maioria da humanidade”.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
