Nos velhos e bons tempos de menino, convivi com uma figura rocambolesca, estrogonófica, às vezes gatuna, mas parte do nosso cotidiano, principalmente de nossos pais. Refiro-me ao bufarinheiro, também conhecido por mercador ambulante e mascate. É o vendedor que, mediante promissórias, carnês ou o fio do bigode, oferecia de porta em porta bugigangas variadas, além de bacias, panelas, rádios, tecidos, bijuterias, miudezas e produtos de cama e mesa. Os produtos normalmente eram carregados em malas, cestos e até lombos de burros e jumentos.
Muito comuns nos anos 60 e 70, eles se tornaram conhecidos nos bairros mais pobres e em áreas rurais muito mais pelas facilidades que ofereciam do que pela qualidade do que vendiam. Mais uma das heranças dos portugueses, os primeiros a negociar em domicílio nas pequenas cidades do Brasil. É claro que nem todos os “muambeiros” eram sérios. Os espertos negociavam mercadorias velhas em novas embalagens. Era o famoso gato por lebre. Como os políticos de hoje, esses só apareciam uma vez e desapareciam sem deixar rastro tão logo consumavam a malandragem.
A diferença é que os políticos se pintam como gatos, mas viram ratazanas tão logo são eleitos. Cresci, amadureci, envelheci e permaneço convivendo com os vendedores de muambas e com os vendedores de ilusão. A diferença é que os atuais muambeiros buscam clientes e não uma venda. Já os candidatos a enganadores do povo são mestres na arte de inverter valores. O maior deles é usar a campanha para jurar que vai melhorar a vida das pessoas. Depois de eleitos, esquecem as pessoas e mudam suas vidas. O esquecimento do povo é a grande aposta dos políticos. Trata-se de um investimento com retorno garantido.
Por isso, defendo a tese de que todo político que diz “meu povo” deveria ser processado por apropriação indébita. Mas o que fazer se, dividido entre direita e esquerda, o eleitor prefere brigar por causa de políticos, em lugar de lutar por seus direitos. Ao contrário dos mascates de outrora, o Congresso Nacional de hoje é como um daqueles produtos oferecidos diariamente pela Havan e pela Shopee. A gente compra e percebe que não serve para nada apenas quando chega em casa e esvazia a sacola.
Muitos de nós se tornaram dependentes dessa droga chamada política. Como a vida, os legislativos federal, estadual e municipal não são contos de fada, mas podemos escolher os bichos que colocaremos nessa floresta encantada. O povo ouve as cantilenas dos candidatos, vota, os elege e normalmente descobre que comprou gato por lebre somente após a posse. Tem sido assim a cada nova eleição. Enquanto não formos convencidos de que elogiar políticos é jogar pedras para o alto, jamais descobriremos que pior do que político em época de eleição só o político durante os anos de mandato.
Considerando que, pelo menos no Brasil, não mudaremos o status quo dos nossos homens públicos, é cada vez mais verdadeira a expressão de que o modo inteligência da política é ser burro. Lamentavelmente fecho com os pensadores, para os quais a hipocrisia não está na política, mas sim em quem a faz ser tão cruel. Ainda mais lamentável é que o político brasileiro é o espelho do eleitor. Portanto, ao contrário dos bons mascates de antigamente, os políticos de hoje não devem ser venerados. Eles são humanos, viciados na arte de enganar o povo e podem nos decepcionar antes da primeira curva. O Ministério da Saúde adverte: Não beba e não fume um baseado antes de votar.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais
