Foi-se o tempo em que qualquer estelionatário mequetrefe vendia bilhetes premiados para cidadãos desavisados. Desde sempre, só acreditavam nessa baboseira os gananciosos e os adoradores de sonhos impossíveis. São os mesmos que, via Silas Malafaia e Valdemar Costa Neto, mantêm acesa a chama do golpe contra a democracia. A grande diferença dos golpistas de ontem e os de hoje são as redes sociais, mecanismo pelo qual os sonhadores esperam a descida à terra de duendes, bruxas e extraterrestres contratados pelo clã Bolsonaro para dizimar o inédito terceiro mandato presidencial conquistado por Luiz Inácio.
A internet é a mais importante, mas não a única forma utilizada pelos defensores do golpe para disseminar ódio. Os encontros de família, os almoços entre amigos, as pelas de fim de semana e até as reuniões de condomínio se transformaram em ringue para os “vendedores” do bilhete com a dezena 22 (já foi 17), aquela em que o prêmio maior se apresentava como capitão (ou tenente) Jair Bolsonaro. Conforme o tempo estabelecido pelo verbo, ele não se apresenta mais. Na verdade, não se apresentará jamais.
Depois de mais uma fake news (?) na UTI de um hospital brasiliense, o ex-presidente está na UTI política. Só ele e seus fanáticos seguidores fingem não saber de seu gravíssimo quadro judicial. Fingem desmedidamente, a ponto de, se achando acima do bem do mal, creditarem a Lula da Silva até mesmo os malfeitos e escândalos do tempo do Império. De forma viciada, fazem isso sem prova alguma do que dizem. É o ciclo natural dos mentirosos compulsivos, também conhecidos patologicamente como mitomaníacos. Sem medo dos céus, eles transformam falsas histórias em um estilo de vida.
Para azar deles, as mentiras são criadas um pouco antes de as verdades serem descobertas. Que o digam o ministro Alexandre de Moraes, seus colegas da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal e expressiva parcela da população brasileira, sobretudo a do Nordeste. Xandão negou aos “patriotas” a tese de idoneidade, honradez, honestidade e confiabilidade absoluta de Bolsonaro. Não posso defini-lo como inidôneo. No entanto, questiono a credibilidade do anjo desconhecido que o afiançou como o mais íntegro dos presidentes que o Brasil já teve.
Imagino que seja o mesmo anjo negro que desenhou Lula da Silva como o ladrão que os fundamentalistas adoram odiar. Mal sabem que a recíproca é verdadeira. Pouco importa. A exemplo dos golpistas antigos, os atuais sobrevivem à custa da ignorância alheia. Como diz o pensador, o mentiroso depende do ignorante, ou seja, um garante a sobrevivência do outro. O estágio de letargia sociopolítica de ambos se torna grave quando o primeiro começa a acreditar em suas próprias mentiras e o segundo é incapaz de desdizer o que ouve. São os tais que vivem de mentiras porque não suportam ouvir verdades.
Mesmo que se apresente como um Deus forjado nas fábricas do ABC paulista, Luiz Inácio sabe que permanece sob a espada de Dâmocles. Apesar das dúvidas sobre sua ilibada conduta, ele nada de braçada na política nacional, enquanto os metidos a santo se afogam no mar revolto das inverdades mentalizadas por sacerdotes do mal. Ainda que não disponham de memória, os pregadores do golpismo mantêm uma maldosa desculpa na ponta da língua apontada para onde Lula estiver. Sofrem, mas morrem com suas verdades mentirosas no bolso do paletó, nas tribunas do Congresso, nas manifestações encomendadas e nas festinhas de aniversário com quorum máximo de “patriotas”. O que eles esquecem é que, como nos filmes e nas telenovelas, na vida real a sina dos mentirosos é a mesma: eles sempre perdem no final. Goebbels que o diga.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos, políticos, econômicos e sociais
