A fuga dos deputados Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem não significa somente escapar da condenação imposta pelo Supremo Tribunal Federal. É a prova de que somos um país empobrecido por políticos que sangram a própria nação. Mais do que isso, é a certeza da impunidade decorrente da imunidade conquistada com os votos dos mais incautos. Por isso é que, fazendo minhas as palavras do arquiteto Oscar Niemeyer, devemos deixar de usar as urnas eletrônicas como penicos.
Fujões são covardes e cagões na essência mais cruel da palavra. São machos somente quando estão em cima do trio elétrico e protegidos pelas orações do falso profeta Silas Malafaia. O problema é o corporativismo da Câmara presidida pelo menino de recados Hugo Motta (Republicanos-PB), assessorado por Sóstenes Cavalcante (RJ), líder da bancada do 22 na Casa. Zambelli, Dudu Bananinha e o quase ex-delegado Ramagem se evadiram, não participam de votações há meses e, mesmo assim, Motta e sua corte de bolsonaristas sem rumo não adotam medida alguma para afastar os três condenados.
Eu não tenho condição de consertar nada, mas posso alardear o quanto quiser que a fuga de golpistas assumidos desrespeita e ignora o Judiciário, desmoraliza o Parlamento e envergonha a sociedade, principalmente os eleitores que confiaram em suas narrativas hipócritas e tirânicas. É um acinte para um dos três poderes da República manter em seus quadros e pagar salários a deputados condenados em última instância. Mantida a inércia do presidente da Câmara, quem será o próximo fugitivo?
Infelizmente, ainda há no país da falsidade televisões e rádios que, em nome da liberdade de expressão, concedam espaço para que deputados fujões façam apologia do crime e da fuga. Por outro lado, há a lei e as autoridades que a interpreta com a lupa na mão. Não fosse a competência de nossos juízes superiores, a essa altura, além dos três deputados, todos os terroristas do 8 de janeiro de 2023 estariam livres sob o argumento idiota de que não cometeram crime. E o que é cometer para esse tipo de degenerado. Quebrar o Congresso, o Supremo Tribunal e o Palácio do Planalto foi só uma brincadeira?
E o que foi a tentativa de assassinar um presidente, um vice-presidente eleito e um ministro da Corte Suprema? Um piquenique? Brincadeira é a bandidagem saída das urnas avaliar o Brasil como quintal de suas armações criminosas. Brincadeira é Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem se imaginarem longe das grades pela eternidade. Donald Trump tem data de validade. Depois dele, tudo pode acontecer, principalmente a sumária deportação de ambos. Zambelli deve voltar antes. Brincadeira sem limite é, com as devidas vênias, um bando de aloprados, insistir em contestar aqui e ali as decisões do ministro Alexandre de Moraes.
Bandido bom é bandido preso. Foi o que fez o ministro. Tá dito, tá escrito e tá feito. E não adiantam esperneios dos tipos siricuticos alucinógenos ou doenças fora da literatura médica. Para quem não se lembra, Luiz Inácio tinha 72 anos quando foi preso em uma sala da Polícia Federal, em Curitiba, onde permaneceu por 580. Lula não alegou insanidade, não usou a idade a seu favor, não fugiu e não soluçou em público. À época, a direita não teve qualquer preocupação humanitária. Por ela, Lula morreria preso. Por que agora exigem reciprocidade. A vida virou a chave. É o outro lado da moeda. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Acabaram os embargos. Portanto, nada mais justo do que embarcar Bolsonaro para os confins da Papuda e que Deus cuide de suas loucuras.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
