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Quando o perigo no Nordeste veste o nome do ex-companheiro

No Nordeste, onde o calor costuma abraçar até quem chega de longe, existe um frio que corre por dentro das casas e cala a voz de muitas mulheres. Um frio que não vem do vento, nem da chuva rara, mas de alguém que um dia já foi chamado de amor.

Os ex-companheiros, esses que carregam lembranças, fotos antigas e promessas que o tempo já deveria ter apagado, são também – e de forma quase absoluta – os responsáveis pela violência que assombra tantos lares nordestinos. É uma estatística que dói porque tem nome, rosto, endereço e história. E, pior: tem repetição.

É no silêncio do fim do relacionamento que muitos deles não aceitam o “basta”, não enxergam a liberdade da mulher como um direito, mas como uma afronta. A violência surge como cobrança, como chantagem, como tentativa de posse — e termina, demasiadas vezes, em tragédia.

Nas ruas de barro, nas avenidas movimentadas, nos conjuntos habitacionais, a história se repete. A vizinhança ouve os gritos, as portas rangem, a noite testemunha o que deveria ser impossível.

E, no dia seguinte, o sol nasce quente como sempre, mas a vida daquela mulher nunca mais volta a ser a mesma.

O Nordeste, que é terra de força, de fé e de resistência, também carrega a dor das mulheres que lutam para sobreviver dentro das próprias casas. Elas enfrentam não só a violência física, mas o medo diário de alguém que já teve acesso aos seus sonhos, ao seu sorriso, à sua rotina. E, apesar disso, seguem. Buscam ajuda. Reconstroem-se. Tornam-se farol para outras.

A violência doméstica não é um problema individual: é social, cultural e urgente.
Enquanto tantos ex-companheiros insistirem em confundir amor com posse, e liberdade com ameaça, o Nordeste — e o Brasil inteiro — continuará colecionando feridas abertas.

Mas cada crônica como esta é um lembrete: é preciso romper o silêncio, proteger as mulheres, responsabilizar os agressores e transformar o amanhã.

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