Na peça “Hamlet”, de William Shakespeare, há uma citação idiomática que virou moda e normalmente é usada para descrever situações em que grassa corrupção, traição e problemas ocultos capazes de afetar uma organização, governo ou sociedade com um todo. Na obra shakespeariana, a frase “Há algo de podre no reino da Dinamarca” é somente uma sugestão, talvez um prenúncio de tragédia. No Brasil, a locução é muito mais do que uma advertência. É um fato e serve como alerta de que as aparências são enganosas até mesmo onde está erguida uma fachada de normalidade.
Quem passou longe do Congresso Nacional reacionário e fisiológico merece uma visita guiada ao Morro da Rocinha em dias de conflito entre polícia e traficantes. Os que cravaram na Casa dos Horrores, também conhecida pelo segundo reduto parlamentar mais caro do mundo, acertou e, por isso, têm direito a uma caixinha de Bis dos brancos. Se alguém tinha dúvida de que o Congresso esqueceu os compromissos com o povo, vale lembrar que, além de ávidos por um regime de exceção, os atuais deputados e senadores, a pretexto de “eliminar” Luiz Inácio, trabalham dia e noite contra as políticas sociais em favor dos mais necessitados.
É um direito do povo eleger inimigos para representá-los em Brasília. Também deveria ser prerrogativa desse mesmo povo perceber que os atos de corrupção que comprometem a elite do Congresso podem desestabilizar o futuro político e econômico do Brasil. Curiosamente, as mesmas redes sociais que vinham minando as resistências do Lula 3 acabaram dando um novo fôlego a Lula da Silva. De mestre ou da inteligência artificial dos pensadores do PT, a campanha “Taxação BBB”, que nada tem a ver com o Big Brother Brasil, ressuscitou o ex-moribundo presidente.
Objetivando facilitar a isenção de 25 milhões de trabalhadores do Imposto de Renda, a ideia de taxar Bilionários, Bancos e Bets não apenas tirou Lula das cordas, mas devolveu a César o que é de César, isto é, garantiu ao presidente um fortíssimo discurso para o palanque de 2026. A pergunta do que seria o Brasil depois do resultado das eleições gerais de 2026 começa a ter respostas mais alvissareiras e pródigas. No português menos partidário, o governo de Luiz Inácio não acabou. Ele está de volta ao jogo.
Independentemente de ideologias, caso Lula conquiste o sonhado quarto mandato, o país garante pelo menos mais quatro anos no pódio mais alto da liberdade e da paz. Vencendo a direita assanhada, barbas de molho. Deus nos acuda, mas se a extrema-direita vencer, salve-se quem puder. Quem não conseguir o destino está selado: o pântano de jacarés do camarada Donald Trump, o Muro das Lamentações do parceiro Benjamin Netanyahu ou a extrema unção do pastor Silas Malafaia, acompanhado de caixão e vela preta graciosamente cedidos pelos barões do agronegócio.
Como a maioria dos brasileiros não pensa em servir de adubo para futuras plantações de mandioca, pepino, nabo, rabanete, cenoura e espigas de milho, certamente a escolha será séria e impeditiva do surgimento de novos carniceiros. Já chega os que temos no Congresso Irracional, aquele que, conforme o site Sensacionalista, ainda vai votar uma PEC proibindo o dólar de cair, a Bolsa de Valores de subir e o carcará de caçar. Com tantos loucos soltos na Casa do Povo, só nos resta torcer por algo novo, apesar de velho. Loucura por loucura, a preferência é pelo louco que anda doido para secar o duto sugador de dinheiro público dos super-ricos.
………………..
Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
