As ruas da Bahia já não são mais as únicas testemunhas dos toques de atabaques, dos corpos que dançam em transe e das folhas sagradas que lavam a alma. O axé, força vital das religiões de matriz africana, tem atravessado fronteiras e se espalhado com firmeza e beleza por todo o Nordeste. De Alagoas ao Piauí, de Pernambuco ao Maranhão, cresce o número de terreiros, casas de culto e comunidades que abraçam os orixás como parte de sua identidade espiritual.
É um movimento silencioso e forte, como as águas de Oxum. Enquanto os grandes centros religiosos ainda disputam fiéis e narrativas, os cultos afro-brasileiros vão ganhando espaço não pela imposição, mas pela ancestralidade. São rezas que vieram nos porões dos navios negreiros, sobreviveram à escravidão, à intolerância, à marginalização – e agora florescem com dignidade em solo nordestino, mostrando que liberdade religiosa é mais que um direito: é um ato de resistência cultural.
Nas feiras populares, nas periferias, nas universidades, o sagrado africano se impõe como parte indissociável da identidade brasileira. E os filhos de santo já não se escondem. Desfilam com seus fios de contas, entoam cantigas em iorubá e convidam quem quiser ouvir a entender que fé também tem cor, tem batuque, tem história.
No fundo, o que se vê não é apenas o crescimento de uma religião – mas a reafirmação de um Brasil plural, onde cada canto pode ecoar um cântico diferente e, ainda assim, formar uma mesma melodia. Que os ventos de Iansã continuem soprando e abrindo caminhos para o respeito e a convivência entre os credos.
