O Nordeste sempre foi uma terra de partidas e retornos, de malas improvisadas e sonhos teimosos. As estradas que cortam o sertão, vermelhas de poeira e esperança, conhecem os passos dos que partem desde muito antes de o tempo virar notícia.
Antigamente, os retirantes caminhavam a pé, levavam o mundo nas costas e a família pela mão. Hoje, viajam em ônibus lotados, motos desgastadas ou aplicativos de transporte. Mas a essência é a mesma: sobreviver.
Os retirantes de ontem fugiam da seca, da fome, da lavoura perdida que a chuva prometeu e não entregou. As casas de taipa rachavam com o sol, e o horizonte parecia mais estreito que a coragem. Partiam em silêncio, sabendo que a vida não esperava ninguém. E no caminho, o sertão mostrava sua face mais dura — a do chão ressecado que não acolhe nem a sombra.
Os retirantes de hoje carregam outras secas: a falta de trabalho, a violência que ronda bairros e povoados, a ausência de oportunidades que, mesmo com luz elétrica e sinal de celular, ainda pesa no peito. A cidade grande virou miragem — brilhante, alta, promissora. Mas quem chega nela descobre que o brilho também cansa, e que nem sempre há espaço para todos na engrenagem que move o progresso.
A geografia da sobrevivência mudou, mas não desapareceu. Agora é feita de fronteiras invisíveis: da escola que não abre portas, do salário que não paga o mês, das enchentes que destroem o que a seca deixou, das migrações de ida e de volta, porque muitos retornam ao sertão buscando paz onde antes buscavam fuga.
E, apesar de tudo, o Nordeste segue de pé. Não só por teimosia, mas por força. Quem nasce nessa terra aprende desde cedo que o chão rachado também germina beleza — basta uma chuva, uma esperança, um novo começo. Os retirantes, de ontem e de hoje, são a prova viva disso: gente que transforma dor em caminhada, cansaço em coragem e saudade em combustível.
No fim, o que move o retirante não é apenas a necessidade de partir, mas o desejo profundo de viver. E viver, no Nordeste, sempre foi um ato de resistência.
